quarta-feira, 25 de julho de 2007

Sorriso


Les Demoiselles d'Avignon

Pablo Picasso


Exijo não ser levado a sério. Nem a brincar. Escrevo ora, como outrora, ao sabor das palavras. O verbo, já de si, desnorteia e não me venham com racionalidades logo de manhã!

Acordei-me a sorrir. Há muito que não o fazia, confesso. Vou a janela e creio estar apaixonado. Pelo mundo, sobretudo. Pela vida fluente em mim e que desagua nos outros. E vice-versa. Por ti, naturalmente, que és a minha musa ancestral. Vou auscultar o meu coração, a minha tensão arterial e a minha poesia. Não devem estar normais. Estarão, no mínimo, em estado interessante. Levianíssimos da silva. Demo-nos de caras ao espelho e imaginei-os a cuidarem de mim. O que pensariam eles de mim? Agora que vou ao teu encontro…

Se antes, retive este ímpeto, saberão também eles, como num poema de Neruda, que tiritam azuis os astros no céu. Em Paris, sob a chuva fina de Montparnasse, soube que não és virtual, mas de carne e osso. Só tu tens a dimensão, quiçá inatingível, de perscrutar o voo dos albatrozes. És imponderável em tudo e não te fias em molduras. E isso me fez bem. No mais fundo de mim…

Frágeis e “deboles”, como todos os seres, afinal finitos e relativos, angustiados sempre diante da “pedra no meio do caminho”. Por mim, estamos mais que conversados, sublimados e curados. Amigos, a sermos, havendo portas e janelas abertas. Colaboradores, o quanto baste, em prol de um mundo melhor. Livros, para ler, mesmo os deixados nas partidas. Nada de dramas, que estes são ridículos e não pagam os sofrimentos. Grandes remédios – ah, antídotos dos venenos todos – estes que emanam dos males reciclados…

Acordei-me a sorrir e estas palavras, soltas e desconexas, são um exercício de fragilidade. A ver se me concedo aos voos da minha alma…

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