Há estrelas, mas isto está mau. Recorrente esta síndrome da página em branco. Não que me fuja assunto para escrever. Trivialidade é o que mais há. Basta escutar ao que se diz na mesa vizinha. Frivolidade, isto é pai-nosso de cada dia. Os presentes se deliciam com a dança de um doente mental. Quotidianidade também não falta à parvónia. Há sempre, algures, uma violação e um espancamento. Nem que me falte algum engenho para o retratar. Arte, às vezes até escasseia, posto que sem inspiração o próprio empenho se esvai pelo ralo. Engenho é o que se vê nestas mal traçadas: sujeito, predicado e complemento directo assentados nos seus sintagmas. Pronomes todos nos lugares cativos. Se invertidos estes, creia-me o leitor, é para me assentarem com uma musa à mesa. Ela é tupi-guarani. E campo verbal conciso, naturalmente. Aprendido da cartilha e retocado na gramática de José Maria Relvas, com muita honra. Ao tempo que isto já não foi. Sobretudo, bem concordante. A síndrome de página em branco, dizia, é uma coisa bem mais freudiana que adverbial. Difícil de se explicar ao leitor. De repente, cai-nos em cima uma cegueira daquelas, um branco de alvura louca. Total blank. Em blackout 100% e com direito a chamadas e sms à borla. A página, mais precisamente, o monitor fica à mercê do nada. Estou apagado, penso. Deleted, mano. Apagado por um trovão, como diria JLT, água ardente, do melhor conhaque. Ou preso no elevador avariado do meu prédio. Navegando em mar da proseia: o twitter, o feed, o badoo, tu no facebook, tudo no ralo, companheiro. Quase que desenho (ou escrevo?) um grafite no mural de mim próprio e levo-me aos arrabaldes à exposição das tribos urbanas. Pichação total. Dos pacóvios estamos todos conversados. E, já agora, de quais thugs falava Vossa Senhoria? Dos thugs à moda antiga, thugs de colarinho branco, thugs betinhos e copos de leite, thugs líderes e jotas, thugs suburbanos, da pobreza e da droga, ou thugs (destes, com griffe e tudo, mais que não me toques) absolutamente filhos da égua? Vai-se ao cujo dos marmanjos e não se fala mais do afluxo. E agora, estou eu a descambar. Com a pequeníssima burguesia não se brinca, nem se lhe avilta o discreto charme. Chatíssima burguesia do capitalismo tardio, selvagem e marginal. Todos nós, que a terra come, devíamos ter lisura uns com os outros, usar capa e espada e mais indumentária. É que usura não paga o pão que diabo amassa. Não sei se fiz prosa criativa, crónica ou raio que o parta. De certeza não ousei hip-hop, pois a barulheira também me cansa. Não me cansaria só da morena, essa dos Ilhéus que se inculca de dar venturas e curar feitiços. Dessas que estão nos livros de Jorge Amado. Com ela a vida fluiria até numa casinha de palha, “bofetão” e taipa. No amasso que isso era mais giro, com beijinhos e coisas que nem digo, assim de permeio, e as manhãs haviam de nascer azuis nesta pele que é minha. E eu semelhando, ainda que de soslaio, as estrelas que las hay…
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