Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.
Guimarães Rosa
Ele nascera num ano que nem digo, mas (fala-se tanto) de um mês de nuvens baixas. Fala-se também do plantio ansiando as águas. E do mulherio querendo outras estações que não aquela. As que amaciassem flores e, depois, parissem frutos. Viera pelas mãos de um médico, que era já poeta, mas entendido como terrorista pelo Governador local e pelo Pároco da cidade que, à noite, fazia-se de Joker daquele, como se sussurrava então. Nascera sem grito – nem dele, nem da mãe, angustiada de homem aprisionado, também visto como terrorista. O nascer sem grito era a marca daquele momento de natividade e a parteira velha, prendada como era, dissera, de voz bem baixa: se salvar, este menino vai ser poeta. E talvez comece assim, sem alvoroço algum, a história do nosso protagonista. Profetiza ela, esse médico virou poeta famoso. E o menino, mais tarde transmutado em palavra, jamais teve outra casa, por mais tectos que encontrasse. Poesia seria o seu único abrigo. Banhado ali em sangue e noutros vagidos de sua primeira casa, o menino propiciava o seu deslizar de brisa pela vida…
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