terça-feira, 28 de abril de 2009

Hora dos Bravos



0.
Esta crónica não pretende fazer análise da conjuntura política nacional. Tão pouco, pretendo, através dela, exercer uma valentia de afirmação com causa, mas sem consequência. Cronista bissexto, as minhas opiniões são apenas marginais e fazem parte de um “imprinting cultural” da minha cidadania. Por conseguinte, aos abutres de opinião, alguns dos quais parasitam as praças municipais e on-line com sórdidos comentários de trazer por casa, não haverá razões para a ira. Esta crónica pretende tão-somente rir dos mitos escondidos sob a couraça das verdades. O gozo enorme das desmistificações. Dar, com os leitores, a sonante gargalhada da dúvida contra a ideia-fixa e a ideia-força

1.
Aquando o regresso das férias do A Semana (férias que melindraram alguns, diga-se de passagem), esse Jornal estampava uma grande entrevista, à guisa de debate, entre Carlos Veiga e José Maria Neves. Os meus amigos especularam à larga sobre o cenário que se montava. Uns, mais cartesianos, falavam que esses dois grandes actores da política fizeram um frente-a-frente presidencialista. Outros, menos cartesianos, admitiam um acordo tácito de coabitação política em que José Maria Neves faria o terceiro mandato governativo e Carlos Veiga finalmente chegaria a Presidente da República. Em verdade, todos afrontaram o arquipélago das incertezas e, a riscos enormes, não analisaram outras variáveis políticas e sociológicas que, no subliminar caos da existência, determinavam o curso dos acontecimentos.

2.
Ultimamente, ainda na mesma linha especulativa, os analistas, tanto analógicos como digitais, já falavam da possibilidade de Carlos Veiga e José Maria Neves afrontarem-se, primeiro, nas legislativas e, depois (se calhar por expedientes de delfinato), nas presidenciais, como se a opinião pública e o sistema político fossem apenas agentes da passiva. Uma vez mais, as coisas não parecem tão lineares à fala dos doutos e os veredictos autoritários das ideias parecem fadados a um rotundo fracasso. Carlos Veiga e José Maria Neves afirmam concorrer, por ora, à liderança dos seus partidos nos respectivos congressos no decurso de 2009. E a premissa de tais afirmações, ela mesma, comporta a sua incessante dialéctica.

3.
Confesso que me apraz assistir ao duelo entre Carlos Veiga e José Maria Neves, ambos determinados a nos governarem depois de 2011. Será um duelo dos bravos. Apraz-me assistir, uma vez mais, que os grandes acontecimentos fazem parte da incerteza destes tempos. Aliás, fazem parte da incerteza de todos os tempos. O poeta grego Eurípides dissera que “O esperado nunca se cumpre e para o inesperado um deus abre a porta”. E como é bela a aventura humana pelos insólitos…

4.
Quero apenas dizer aos confrades de opinião que as nossas ideias (as minhas à cabeça), às vezes, axiomáticas e absolutistas, precisam passear por meta pontos de vista e importar variáveis dos mais improváveis. Poderemos, nesta hora dos bravos, estar erradíssimos da silva. E isso também, meus caros, era um gozo enorme…

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Começa a haver flores a mais

começa a haver flores demais
flores cromáticas, umas mais plásticas
que outras, mas todas doidivanas,
a crescerem como um cancro
na Primavera.

começa a haver excesso de luz,
exagerado diurno e a faltar sombra,
becos íntimos para os beijos, fiapos
de nuvem e de lua para a primeva
nudez da aurora.

falta a cambraia das noites frias,
a ventania com que nos refugiamos
sob os cobertores de outrora, falta
calar o chilreio dos pássaros, começa
a haver canto a mais.

os interstícios de tantas falas,
os tules, ora sem cor, nem dor,
o caule das alas e o coice dos alados
cavalos, ora o reduzir poesia à prosa
e (as mulas) à metáfora.


Filinto Elísio
in Diversa prosa de quase verso

sábado, 25 de abril de 2009

25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O que me acontece

Evades-me, ora de contente, ora de padecida,
Perdendo no que me eras enleio, só devaneio,
O seres-me sêmea, se sendo fêmea não bastarias
Para que me afoitasses, cá dentro, poesia…

Desfiava-te as tranças e esvoaçava-te os pêlos,
Sodomizava-te a cada milímetro, a música
De ti que ouvia, teu certo respirar, arfante,
De quase gemido, nau perdida que derivas…

Evades-me sempre, tão que de modo leve,
Se me escapas das mãos, quão fresca água
De matares minha sede, a dos desertos meus…

A de minha vida breve, eis que me anoitece,
Ave que vai e vem, voa e povoa de imagem
O soletrar de amanho com que me foges…


Filinto Elísio
in Diversa prosa de quase verso

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Kriola Enkantu


Cronista Desesperado, Poesia & Moonlight Serenate






Poderia começar por intuir que a lua é uma mulher linda, lindíssima. E, já agora, que tanto se me dá, instituir que sou louco, o que é pouco diante do que se vê ao espelho. Poderia, em segundo, continuar a fazer loas à lua, ouvir dela uivos de loba e berrar à quietude do monitor do meu portátil. Às vezes, questiono-me se não seria mais interessante parar de escrever crónicas. Deixar de ser inspirado. Dar um desesperado basta ao Albatrozberdiano. Fazê-lo, não para transpirar a Bloga incauta, mas parar tão simplesmente. Radondu sima riloje. Questiono-me se não seria até mais ecológico se, num rasgo filosófico mediano, merecido à pasmaceira de resto, acabasse de vez com o Entre-Nós e fosse à lua cheia na rua. Assumir o penso, logo desisto. Outras vezes, admito que o pessoal terá de aturar as minhas impertinências, engolir o sapo das minhas agruras e aceitar que eu seja ovelha desgarrada. No dizendo, fazendo, se ajoelho não digo ámen. Rezar também não. Admito também compartilhar o oxigénio e o carbono com todos, e mesmo cometer pecados de amar, acarinhar, doar, verbos não muito regulares e, na paróquia, tidos por levianos. Como despiciendo o discorrer sobre os amores passados, tardios e reciclados -, uns em boas amizades, outros em ódios de lume brando. Admito ainda não poder ser outro, mas tão-só só este poeta, exagerado, pé feio, aquilo torto, olhos mortiços, andarilho…E leio, com entusiasmo, que os cientistas descobriram que recitar poesias ou ler poemas em voz alta diminui o stress, normaliza os batimentos cardíacos e a frequência respiratória. Será que a poesia começou a ser útil? Descobriram que, tal como a marcha matinal e/ou vespertina, vale recitar e eu, modéstia à parte, confesso que já andava desconfiado disso. Todavia, não será por utilidade a razão de haver escrito Li Cores & Ad Vinhos, livro que, em breve, estará à disposição da recitara local. Este é um livro inútil nos escaparates. De alguém a beber as palavras para além da conta e a desejar compartilhar a sua embriaguez com todos. Inútil como os olhos esverdeados dessa morena para o trigueiro e que passa também pela rua, alheia à lua. Se quiserem provar o cálice, tê-lo-ei à mão de todos. Confesso que este livro não marca uma nova fase, nem aponta novos caminhos. Não exageremos. Já não tenho idade de entreter a canalha. Tornei-me simples, assumidamente simples. Até por ter percorrido o território da complexidade. Simples, mas não ingénuo, como ditaria a própria desconstrução da complexidade. Como downgrade…Pela rádio, ouço a cantilena dos cretinos da terra. Têm a prerrogativa do Estado da Nação. Os melhores filhos desta democracia que também têm de mediocridade o que lhes sobra de milagrosa bênção. Enquanto não me chega o dia de pensar para desistir, saio à rua pensando no cão que me guarda, na estrela que reluz, na brisa que bole a copa das acácias, essas coisas…Lua, vagem, viagem. Uma carruagem de coisas. Sou assumidamente sartreano em que o homem encontra em toda a parte a projecção de si próprio. Os meus poemas repetirão isso. Tudo – pedra, flor, água, ar, terra, vento, gemido, fala, Deus – é reflexo do homem. O homem reposicionado em tudo, inclusive na sua própria transcendência. Acho até que a lua cheia, assim cheia de graça e de luz, me persegue. Saio a deambular, com a mão na algibeira, esquecido dos assaltos e dos meus inimigos de estimação. Moonlight Serenate. Eis que também a lua é inútil. Será? Assim (permitam-me esta confidência), a lua é uma mulher linda, lindíssima…

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Tudo incluído



1.
Chego ao grande empreendimento turístico e o porteiro, que faz as vezes do segurança, não me deixa entrar. Ele explica-me que posso ver o pôr-do-sol ali mesmo à entrada, mas que o hotel não aceita não hóspedes. Eu sou um não hóspede. Tanto que me contento com o sol a pôr-se no mar como uma melodia que enternece. Um sol alaranjado e oceânico. De um lado esse sol enorme, redondo e esmaecendo-se ao crepúsculo. Doutro lado, o porteiro pensativo entre as minhas razões e as razões do hotel. Entre o meu bilhete de identidade (cidadão cabo-verdiano, pois com certeza), que me deixa à porta, e a ausente pulseirinha (jura-me o porteiro nas vezes do segurança), que me faria entrar no portentoso hotel…

2.
No aeroporto, já uma vendedeira me informara das suas vendas nulas. Os turistas que chegam ou partem, tendo pago à origem o tudo incluído, não têm dinheiro para comprar um souvenir da terra sequer. O t-shirt, o bibelot de casca de coco ou de pedra, o CD, o cartão postal, a garrafa de grogue, o ponche de mel e de coco, o atum de conserva…tudo fica literalmente às moscas. Na esplanada do aeroporto, a balconista também tem queixas: “Nem uma garrafinha de água!” Os turistas chegam e partem, liderados por um tour manager, sem terem espaço para conviver com as pessoas da terra. É-lhes desenhado um cenário exótico da ilha – as suas dunas de areia, as suas praias intermináveis, as suas estradas entre ravinas -, cujo pacote deve ser comprado à priori na agência de viagens…

3.
De repente, consigo falar com um turista acidental. Um que foge da muralha do grande hotel e vem ver o pôr-do-sol cá fora. Este quer saber da língua, da música, da poesia e da culinária de Cabo Verde. Sabe que temos um país de rendimento médio e em cumprimento dos objectivos do milénio. É um evadido, um subversivo. Não se contenta com sol e praia, com os passeios pela ilha nos autocarros alugados pela operadora turística. Diz-se farto de comer pasta e pizza em Cabo Verde. Cioso de sentir o Petit Pays que Cesária Évora canta, diz ele. De repente, consigo falar com um turista incidental. Um que rompe o circuito, o bloqueio que o circuito cria. Um perigoso, amante fervoroso do pôr-do-sol cá fora…

4.
Não deveria haver um sistema híbrido, alternativo ao all inclusive dos hotéis e das aldeias turísticas, de Cabo Verde? Algo que, sem perder a selectividade, contornasse (e controlasse) a versão de turismo da pulseirinha? E que permitisse maior interacção do turista com a comunidade? Naturalmente que, sendo criativos e inovadores, não nos faltarão ideias originais ou soluções, como agora é moda dizer, para humanizar (se não mesmo crioulizar) o circuito turístico cabo-verdiano. Tão pouco nos faltarão engenho e arte para acrescentar a tais soluções a cabo-verdianidade com os seus ingredientes da arte e do folclore. Ademais, não nos dispomos a mostrar a cor da pulseirinha diante um Cuba Libre, já que Grogue de Santo Antão e Vinho do Fogo não estão no cardápio. Enfim, é tudo incluído…menos Cabo Verde!

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A Sense Of Humor




Kriol Jazz Festival

Não sei a quem realmente agradecer pelo maravilhoso fim-de-semana de Kriol Jazz Festival. Antes de mais, à Câmara Municipal da Praia pela ousadia de transformar em festival a “outra música”, a inumerável música de qualidade que a elasticidade da semântica chamará de “jazz”. Igualmente, pela Produção Harmonia, vê-se que coisa fina, da melhor cepa e estampa. O palco, a Praça Luís de Camões (ora Praceta Dr. Lereno, ora Praça da Reitoria da Universidade), o público que vibra com Lenine e pede bis, tris, parou porquê, porquê parou, e que dança com Jorge Reys e Banda pela madrugada, os aficionados que cantam com Yuri Boanaventura, tudo muito mágico, com tanta metáfora. Ver e ouvir Mário Lúcio, com uma banda híbrida e boa, a estilizar a ladainha é momento raro que a recordação irá resguardar aqui no chip. Sentir o pulsar reinventado de Tcheka, ele todo mais que artista, mas Arte em pessoa. O som pesado de Meddy Gerville, o kora de Ba Cissoko, que lembra, mas com genica de um Richard Bona, Andreas Vollenweider. Para continuar…

Horace Silver

Como munícipe desta cidade, não estarei desautorizado a fazer propostas. Que a edição do próximo ano seja em tributo a Horace Silver, o maior jazz-player cabo-verdiano-americano, felizmente ainda vivo e sem a ventura de conhecer Cabo Verde. Silver foi o criou o hard bop, estilo mais influente do jazz desde os anos 80. Ele tocou com Stan Getz, Miles Davis, Coleman Hawkins e Lester Young. Com Art Blakey, ele criou os Jazz Messengers. Mais: tem duas músicas com reminiscências cabo-verdianas – The Capeverdean Blues e Song For My Father. Vamos, minha gente, homenagear Horace Silver. Passaporte Diplomático, Chave da Cidade, Doutor Honoris Causa, essas coisas. Como diria Silver, Jazz has a sense of humor

Modo de preparo

O segredo está no tempero à minha moda. Seja pernil de porco ou badejo no forno, seja Molho de São Nicolau, seja Djagacida, a chave do enigma começa no fogo lento, alho, limão, gengibre e coentro. Juro que vou escrever um livro sobre os temperos. Dos pratos aprendidos em Providence. Dos experimentados em Marraquexe. Da cavala frita ao molho escabeche. De como acompanhas as medidas e cronometras o tacho de feijão. De como o azeite extra-virgem e o azeite balsâmico se acasalam. De como marinar esse carpaccio de atum. Sem cardápio, sem salamaleque. Slow food. E que tal um festival de slow food crioulo? Salsa, agrião e sal grosso. Sobrando-nos apenas e tão-somente o modo de preparo…

Vela para Nossa Senhora da Graça

Hoje, estou mais calmo. Dirás que acendi uma vela para Nossa Senhora da Graça, minha padroeira. Dir-se-ia que bate em mim um remanso qualquer. Será da voz de Yuri Boanaventura que nem cantou Ne Me Quite Pas? Será do texto sobre feng shui que me torna, a par e passo, crente do Oriente e das montanhas do Nepal? Será dos olhos dos meus filhos escuros e grandes com a noite? A noite me apazigua o pensamento, não sei se devido ao vento ralo ou à sombra que se desprende dos beirais…

sábado, 4 de abril de 2009

1. Kriol Jazz Festival. Quem não foi, perdeu. A edição de ontem elencava três grandes nomes. O primeiro convidado era um filho da terra: Tcheka. O seu nome é referência absoluta da música cabo-verdiana. Nesse mesmo palco, actuou depois Meddy Gerville, da Ilha Reunião, um dos maiores virtuosos do moderno jazz instrumental . Finalmente, a chave de ouro Ba Cissoko, da Guiné-Conacri, com os códigos todos do kora ancestral e o virtuosismo de quem aprendeu o "ruído" de Jimmi Hendrix...

2. Instituir Kriol Jazz Festival, anualmente, significará agregar valor à Cidade da Praia, pelo que merecem aplausos os promotores do evento. Aos poucos, a oferta cultural será plural e internacional, havendo espaço também para outras formas e outros conteúdos, para outras soluções espirituais. Longa vida ao Kriol Jazz Festival...

3. Praia já teve Fesquintal de Jazz e Festijazz, assim como já teve dois festivais de cinema. Vamos, pois, recentrar esta cidade pela Arte e pela Cultura. Comecemos pela animação, pelo patromónio, pela reflexão, pelo debate. Comecemos pela atitude. O striptease necessário. Despir a canga da mediocridade, da mesmice e da dominação. Mental slavery. Nu moooooooooooooonda...

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Minuendos




1. Nota máxima para o workshop, ontem, na UniCV, com os músicos Jorge Reyes, Changuito e El Panga. Como diria Jorge Mermelo, foi um fim do dia perdido para as coisas do espírito. O apreender a música...lentamente.


2. Nos próximos dias 3, 4 e 5 de Abril vai se realizar o Kriol Jazz Festival, na Cidade da Praia. A conferir:


3 Abril


Tcheka - Praia - CV
Meddy Gerville - Réunion
Ba Cissoko - Guiné Conakry


4 Abril


Mário Lúcio - Praia - CV
Lenine - Brasil
Mário Canonge & Ralph Thamar - Martinique


5 Abril


Baú & Voginha - S.Vicente - CV
Regis Gizavo - Madagáscar
Jorge Reyes
Orestes Lopez, Cachão & Chano Pozo - Cuba
Yuri Buenaventura - Colômbia


3. Lá estava a treta ultraliberalóide e socialeira, a fingir-se por dentro de tudo e de nada. Uns de portáteis a luzir, outros de pose art-deco, todos na desdita do verbo "estar". A Fábula do Esopo, creio, começava nesses termos...


4. Chego a casa, já com o relógio sem cucos batendo as 21H00, a tempo ainda para detonar uma omelete de queijo da Boavista e cogumelos enlatados. Com chá verde gelado. Cansado...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Chalk drawings and messages

New York, circa 1971-early 1990s, © Helen Levitt.

A Way of Seeing Morreu a fotógrafa Helen Levitt, a diva dos instantâneos de Nova Iorque. Os insólitos, as loucuras, o mood da cidade mais cool do planeta não escaparam às lentes de Levitt que clicava com genica de artista plástica e com embriaguês de poeta. A minha alma triste, que é também de crosstown, andarrilho que sou das esquinas, testemunha das ruas fechadas, dos Dead End Streets, dos baixios que os viadutos concedem, do Harlem e do Bronx às 3:00 A.M., dos vagabundos que recolhem latas de alumínio e garrafas de plásticos em carros roubados nos supermercados, de tudo. Dos pintores das pontes, dos cabo-verdianos nos andaimes das pontes suspensas, de quando os aviões embateram nas torres gémeas da World Trade Center. De tudo tão fatídico. A way of seeing...O Paraíso tropical de Humboldt (...) Em menos de uma semana, o Beagle chegou à costa ocidental de Santiago e ancorou na baía da Praia. Com FritzRoy, fez visitas sociais, encontrando-se com o governador português e o cônsul americano. Depois, passeou pela cidade, como turista, passando por soldados com armas de madeira, crianças castanhas de tronco nu e currais de cabras e porcos. Chegou a um vale profundo, nos arredores, e aí, finalmente, encontrou o Paraíso de Humboldt (...) Tempo & Paciência O jornalista e amigo Francisco Fontes nos dá conta da impossibilidade da antologia poética Destino de Bai, lançado desde Julho de 2008, em Coimbra, chegar a Cabo Verde. A ONGD Saúde em Português não diz nada ao coordenador da antologia. Em relação aos exemplares a que temos direito, devo assumir que me falta Tempo & Paciência para mendigar tal obra aos donos do mundo. Fuck them all...

Monday in B-Flat


I can pray
all day
& God
wont come.
But if I call
911
The Devil
Be here
in a minute!
Amiri Baraka

DESTE CAUTELAR PENSAMENTO




(Da Arte, dos Partidos e das Verdades)




Pretensos críticos


Antigamente, ou talvez não tão antigamente assim, reinavam os pretensos críticos da Arte, esses todo-poderosos. Com os seus critérios herméticos e estafados. A determinarem que o borrão de fulano era melhor, mais bem conseguido ora, que o de beltrano; que a metáfora de beltrano superava a de sicrano e por aí além. Mau grado o arcaboiço estético, quase sempre de reboco epistemológico, a cerne de tudo se resume aos ditames do gosto individual ou colectivo. A obra-prima de hoje pode ser, amanhã, uma obra marginal. Por isso, rogava aqui que não se nos aprisionasse a fruição artística. A gaiola da crítica, da pretensa crítica, por competente que pareça ou se aperceba, poderá, em muitos casos, conter riscos de lesa Arte. Entrementes, reinam ainda entre nós os pretensos críticos da Arte, esses todo-poderosos…


Pretensos militantes


Leio, sem qualquer entusiasmo, o elogio (que a mim soa a falso e a exagerado) que o meu amigo faz a um terceiro, pelas suas virtudes de militante partidário. Fá-lo, como se o mundo se esgotasse ali e se as galáxias de preencher com o nosso existencialismo se encaixassem, como um todo, nesse vão dos partidos políticos. Para mim (sem querer ferir susceptibilidades de uns e de outros, nem ousar perturbar deuses de esquina com vara curta), os partidos são de facto importantes para o desenho político vigente, mas, pensados a fundo, não passam de variáveis marginais da grande equação social. Podemos, se quisermos, exercer cidadania e ter vida pública à margem dos partidos e, de tal prática, podemos induzir e quiçá alterar o nosso sistema constitucional. Não haverá determinismo, nem fatalismo tão pouco, que impeça que todo esse aparato afinal se aparte de ser, como diria Caetano Veloso, uma “vaca profana”…


Pretensos donos da Verdade


Ou mesmo das Verdades. O sinal cognitivo da filosofia é sempre o ponto de interrogação. Quem no-lo diz é o Poeta Salah Stétié. Os que por aqui exclamam, sendo donos da Verdade na imprensa e nos palanques locais; os que por estas e outras bandas se afirmam sabedores do caminho das vinhas (e das verdades do vinho), mais não são que fracassos em pessoas, teses fugazes, frágeis, fragilíssimas, como todas e, de pronto, degradáveis (posto que, de primeiro, já eram degradantes). Assim todo aquele que afirma e que exclama nesta arena, afirma e exclama a relatividade e a debilidade do exposto, e encaramo-lo com o sinal cognitivo da filosofia, isto é com o ponto de interrogação. Poeta, a Verdade é pouca; as verdades são dúvidas…