segunda-feira, 26 de março de 2007

Com uma capa cinzenta

Não como um rei, mas como um actor,
vestiu uma capa cinzenta em vez das vestes sumptuosas
e ignorado, retirou-se.
Plutarco, Vida de Demétrio




Pura vida

Não sei se escrevo sobre as greves, algumas falhadas, que atravessam o país. Ou se escrevo sobre as tuas impressões de Costa Rica, esse digno país sem exército, onde as pessoas respondem aos cumprimentos com “Pura vida”. Tampouco, se esboço umas linhas sobre a mesa de gala enfarpelada, com o protocolo à altura, pois estava-se a receber Danielle Mitterand, e falava-se da vitoriosa visita do Presidente Pires a Fortaleza. Se respondo a um aprendiz de serviço pela referência negativa, zangado com o Doutor Honoris Causa atribuído ao Presidente pela Universidade Federal do Ceará. Ou se apenas digo que é bom saber de ti – os queijos, os vinhos & os chocolates de sempre – e os anos desta existência. Escrevo, sem vestes sumptuosas. Escrevo tão-somente…

Imprensa em debate

Acompanho, pela Rádio de Cabo Verde, o debate sobre a comunicação social em Cabo Verde. Ouço uns e outros. Em verdade, há acertos e ajustes a fazer no campo mediático. Há aspectos a conseguir, como a qualidade dos serviços públicos da imprensa. Igualmente, a regulação para mediar e fiscalizar a qualidade de toda a imprensa, tanto pública como privada. Não falo do Conselho da Comunicação Social, mas de uma agência reguladora mais eficaz e mais apartada dos partidos políticos. Mas, a par disso, a liberdade de imprensa consagrou-se em Cabo Verde, depois de anos de condicionamento e tormenta, durante o monopartidarismo e a primeira fase da democracia, então exacerbada. Sou amigo e confrade de Jorge Soares, fundador e primeiro director do Jornal A Semana, tendo acompanhado a perseguição politica sofrida e o processo que levou ao seu asilo político nos Estados Unidos. Vários jornalistas foram processados e intimidados, outrora. Que o digam José Vicente Lopes e José Leite, entre vários outros. Longe vai o tempo de dezenas de jornalistas nas barras do Tribunal. Basta de falsa realidade. Basta de má-fé. Interessa sim, o passado e o antecedente, embora não defenda a justiça retroactiva. Queremos uma imprensa melhor, ciente de que a actual situação já é um incremento diante do que fora nos últimos anos. Queremos ouvir os profissionais do sector e não apenas os funcionários da política. Por uma comunicação social cada vez mais livre, mais crítica e plural. Em prol da cidadania…


Para que serve a crónica

O meu leitorado há de perguntar para que serve a crónica. Sem muita certeza, direi que talvez sirva para atestar que nunca me curvei diante dos deuses pés descalços, nem dos palanqueiros de serviço. Queria ter alguma isenção, mas não padeço de neutralidade. Daí não ser indiferente aos ataques que me fazem. Et pour cause, esse aspirante a intelectual, merece pena e complacência. Há distúrbios herdados, pelos quais não temos culpa, ficando Freud para os explicar. Agora certo analfabetismo, não se compreende, nem se desculpa…

Com uma capa de cinza

Enquanto o Jornal Horizonte existir, este cronista estará no convívio do seu leitorado. E quando chegar o derradeiro dia, ele ficará apenas no ninho do seu Blog – www.albatrozberdiano.blogspot.com, para os ainda desavisados. Não como um rei, mas como um actor, importa descer da ribalta. O certo é que o cronista sai da cena, com a morte anunciada deste Jornal. Nenhum drama, apenas a mudança de vestes, como o Rei Demétrio, no dizer de Plutarco.



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