Crónica de uma morte anunciada
Já o tinha anunciado. O Jornal Horizonte vai ser desmantelado. O vazio mediático, se não for preenchido, será mesmo perverso. Vamos ficar mais pobres, ainda que o Jornal, como todos os outros no mercado, pudesse ser mais atraente e apetecível. Não se sabe ao certo se há planos para criar algo novo. Oxalá haja, em prol dos estados gerais da imprensa. Faltará ao Estado solução mais criativa do que uma simples crónica de uma morte anunciada. Talvez para agradar a gregos e troianos, mas no descuido da vasta maioria dos leitores, este golpe de misericórdia. Eu já não tenho idade para representar diante de quem quer que seja. Quanta irresponsabilidade, minha gente…
Quando se nos escapa o planeta Vénus
Estou na Biblioteca Publica de Fortaleza, a pesquisar sobre os poetas nordestinos que, de forma incisiva, influenciaram os modernistas cabo-verdianos, mas dou de caras com esses poetas pós modernos e, investigador bissexto, relego para outra hora o desafio da minha claridade. A biblioteca (e também nisso tem razão Jorge Luís Borges) é uma torre de babel, um labirinto onde se perde das coisas pré concebidas. Fica-se tonto de tanto buscar saídas. Quando a saída é aprender a conviver com a condição de labirinto, que é a própria condição borgiana da biblioteca.
Dias de escola
Vem o Carlos Hamelberg a Fortaleza e falamos dos idos tempos do liceu. Para mim, o pior dia de escola era aquele em que a professora, com o olhar de águia-real, clamava no sumário “Revisão do Caderno Diário e da Matéria Dada. Chamadas”. Primeiro, o meu caderno estava cheio de desenhos (ilhas, barcos, aviões, mulheres nuas). Para ela, não podíamos ter mais do que apontamentos e trabalhos de casa nos cadernos, cujas folhas numeradas sofriam dela periódicas inspecções. Segundo, eu odiava o vexame de ir ao quadro, tendo inventado a desculpa pouco convincente de alergia ao giz. Isso, para não vos contar que as ditas Chamadas eram sessões pidescas, feitas para nos fazer humildes diante das colegas da sala. Talvez por isso eu tenha adquirido esta inimizade ao saber provisório e absolutista, bem como do adventício dos nossos pequenos deuses.
Vénus que se esvai
E, como nos conta o poeta cearense Ruy Vasconcelos, “Toda biblioteca é em espiral. Não vemos isto porque a óptica ilude. E somos míopes em graus diversos. E, então, essa espiralidade das bibliotecas nos escapa como nos escapa o planeta Vénus quando o sol surge.”
Ainda sobre a crónica verruguenta
Mais dois emails, do mesmo incontinente da semana passada. Fazer o quê, companheiro? Falai do mau, apontai o pau. Em verdade, queria apenas ver o planeta Vénus e dizer que vou até a morte deste jornal, que alguns abutres já festejam, lembrados da fome e esquecidos da ética. Por mim, tudo não passa de uma imensa gargalhada e sei que V.Excia não é o rei do bom humor. Eu, com humildade, bebo no cântaro de alguns mestres – Luís Loff de Vasconcelos, Pedro Cardoso e Jaime de Figueiredo. Convenhamos, meu caro deputado, que não tenho imunidade (nem impunidade), como afirma, mas sou livre da silva, que nem um albatroz. É a graça de não ter obrigação com o eleitorado, mas apenas este encontro acidental (e quando der) com o meu valioso leitorado…
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