Que os deputados da oposição queiram questionar e mesmo denunciar o que vai mal na administração, acho bom, higiénico e saudável. Os deputados da situação, em vez de jogarem à defesa, devem ir ao ataque também, criticando o que não está conforme. Afinal, a administração é um corpo institucionalmente próprio e tanto a governação, como a oposição, têm de lhe prestar cuidados especiais. Outrora, agora e sempre. Que não haja veleidade de não acharem coisas escusas e obscuras, meus ilustres. Isso, nem na Finlândia e na Noruega, onde a cultura pública se sublima. Ou mesmo na Singapura, onde há chicotadas e penas de morte na praça. Ou ainda naquele califado, onde o comensal está reservado ao califa e o resto a embriagar-se nas Mil e Uma Noites. Em Cabo Verde, Portugal, América e resto do mundo, é o que se sabe. Basta acompanhar a imprensa, meus ilustres. Mas o debate parlamentar precisava de mais fineza e pedagogia. Provas a dar credibilidade às suspeitas. Sem complacências, entretanto. Toda a administração, por mais moderna e reformada que esteja, tem os seus mandos e desmandos. A proximidade dos amigalhaços, as dívidas e os défices, a contabilidade a meter água, as derrapagens e os desvios. Há contas dos anos noventa por fechar, imaginem. Houve até aquele descaramento da classe empresarial próxima ao partido, coisa brava. Isso, para não falarmos do faroeste da gestão pública e das privatizações danosas numas ilhas, ditas hesperitanas. Tudo isso existe na administração, com mais ou menos requinte. O que diferencia é a governação em sentido amplo (para lá do Governo), o arquétipo político da coisa. A engrenagem do controle e da transparência. O Tribunal de Contas a fazer as contas e a exercer autoridade judicial. A Procuradoria a dar provimento e execução. O Parlamento a questionar e a inquirir. O Governo a nortear, a despachar e a auditar. E a cultura da coisa pública, com rigor e intransigência. A ética weberiana sobre a res publica, com o cidadão consciente (e sem medo) do seu papel. Agora o que está também mal, mesmo mal, malíssimo da silva, é a forma como os nossos parlamentares cortam as mãos, tendo a faca e o queijo. Não é que se queira um Parlamento cheio de mesuras, ademanes e salamaleques, mas assim, de faca amolada, não dá. Aqui, os mortais e contribuintes, queríamos que isso não fosse tanto o feudo dos imunes e dos impunes da democracia, a destilarem maus fígados e más palavras. E quem haverá de julgar os juízes? E os nossos impostos, carago? Está até escrito que tem de ser doutra maneira, meus ilustres. Um pouco mais, uma coisinha de nada, de fineza e pedagogia, que o pessoal agradece…
sábado, 3 de março de 2007
Para lamentar
Que os deputados da oposição queiram questionar e mesmo denunciar o que vai mal na administração, acho bom, higiénico e saudável. Os deputados da situação, em vez de jogarem à defesa, devem ir ao ataque também, criticando o que não está conforme. Afinal, a administração é um corpo institucionalmente próprio e tanto a governação, como a oposição, têm de lhe prestar cuidados especiais. Outrora, agora e sempre. Que não haja veleidade de não acharem coisas escusas e obscuras, meus ilustres. Isso, nem na Finlândia e na Noruega, onde a cultura pública se sublima. Ou mesmo na Singapura, onde há chicotadas e penas de morte na praça. Ou ainda naquele califado, onde o comensal está reservado ao califa e o resto a embriagar-se nas Mil e Uma Noites. Em Cabo Verde, Portugal, América e resto do mundo, é o que se sabe. Basta acompanhar a imprensa, meus ilustres. Mas o debate parlamentar precisava de mais fineza e pedagogia. Provas a dar credibilidade às suspeitas. Sem complacências, entretanto. Toda a administração, por mais moderna e reformada que esteja, tem os seus mandos e desmandos. A proximidade dos amigalhaços, as dívidas e os défices, a contabilidade a meter água, as derrapagens e os desvios. Há contas dos anos noventa por fechar, imaginem. Houve até aquele descaramento da classe empresarial próxima ao partido, coisa brava. Isso, para não falarmos do faroeste da gestão pública e das privatizações danosas numas ilhas, ditas hesperitanas. Tudo isso existe na administração, com mais ou menos requinte. O que diferencia é a governação em sentido amplo (para lá do Governo), o arquétipo político da coisa. A engrenagem do controle e da transparência. O Tribunal de Contas a fazer as contas e a exercer autoridade judicial. A Procuradoria a dar provimento e execução. O Parlamento a questionar e a inquirir. O Governo a nortear, a despachar e a auditar. E a cultura da coisa pública, com rigor e intransigência. A ética weberiana sobre a res publica, com o cidadão consciente (e sem medo) do seu papel. Agora o que está também mal, mesmo mal, malíssimo da silva, é a forma como os nossos parlamentares cortam as mãos, tendo a faca e o queijo. Não é que se queira um Parlamento cheio de mesuras, ademanes e salamaleques, mas assim, de faca amolada, não dá. Aqui, os mortais e contribuintes, queríamos que isso não fosse tanto o feudo dos imunes e dos impunes da democracia, a destilarem maus fígados e más palavras. E quem haverá de julgar os juízes? E os nossos impostos, carago? Está até escrito que tem de ser doutra maneira, meus ilustres. Um pouco mais, uma coisinha de nada, de fineza e pedagogia, que o pessoal agradece…
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