terça-feira, 13 de abril de 2010

Quem te tatuaria?

Quem,
          me_xendo no baú
          de tua tatuagem
desenhou-te
          (em lápis de cor
                 ou, sei lá, tinta da China)
negro dragão
          tão alva lua
                 e graciosa borboleta?

Quem,
          vasculhando-ú
          de tanta miragem
navegando-te
          (em teu corpo-delito)
pecou maçã
          tâmara
                e manga-rosa?

Sabê-lo ser alguém
de ditoso e de distante
(que é do vaga-lume sem sua noite?);

Sabê-lo,
por teus cantos, demorado
(como pão quente, chá de manjerico e milho novo);

Sabê-lo,
silente de guardado,
ou tão-somente silenciado
(tresandando sândalo e seu pecado)...

Ah, sem tanto alarde,
          desoficinar poesia
(e sabê-lo Deus, todavia);

Ah, mesmo que tarde,
seres lacre que sela
          carta já fechada à língua;

Seres, ainda que cifra,
toda a mensagem de olhos
          tua nuvem virando viagem...

Ou luar,
que comigo assim mexe,
agora que nua te pressinto

          re_mexendo...

1 comentário:

Mauro Henrique Santos disse...

Filinto,

Assisti ontem a sua palestra na USP. E fiquei bastante impressionado com a sua conciência sobre o fazer poético e a sua desacralização dos suportes canônicos da poesia e a sua propostas de novos suportes, não como novos paradigmas eternos para todo o sempre, mas como uma propósta de nos servimos de outras possibilidades e até também como uma proposta ecológica... Até escrevi sua declaração sobre a consideração, a lá, Paul Zumthor, "O grande propósito da minha poética é colocar a poesia no corpo, fazê-la corpo..."

Abraço, e obrigado pelo grande momento de deleite...

Mauro Henrique.

Ps: Deveria ter perguntado ontem, mas enfim, queria saber quais são seus poetas favoritos brasileiros. Você citou alguns contemporâneos, os quais não conhecia, mas enfim, queria saber quais os seus favoritos.