segunda-feira, 19 de abril de 2010

Praça da Liberdade


Tenho dó das estrelas, luzindo há também tempo

Luzindo há tanto tempo, tenho dó delas

Fernando Pessoa





É quando estamos no afã de “posto em sossego” que nos aparece o Cupido em sua fímbria e nos faz perdoar, sem esquecer todavia, o aceiro da parvónia. Aceiro que fede, diga-se em abono destas mal traçadas regras. E pelo que ali tresanda estamos então nós já conversados. É quando absortos estamos, numa cidade grande – inteira de cosmos, mas rodeada de serra, não fosse esta Belo Horizonte urbe de tantas, cada vez mais tantas, lembranças implacáveis -, na praça sendo, ou só fosse de Liberdade, o povo lhe querendo assim maiúscula. Que lhe coubesse, já agora, o próprio amor. Distraídos também estaremos de ver a flor de cacto e de alteá-la, em como se declina, sua pétala e resina. Seu mais viscoso mel e não me fales agora, antes que anoiteça, do suco de tudo. Tendes outra visão do mundo, mas o que bastaria ao poeta era poder abraçar o mundo todo. Ou, quem sabe, poder acender o luar à tanta lua baça que não alumia fiapos de angústias. Pois é, “posto em sossego”, não que tal flor, por um só dia no terraço do Padre Petricca, nos seja mais inebriante que tão espirituoso vinho, mas pelo acalento bom, o que nos saiba a lindas histórias de Júlia e Julieta, duas lindas gatas sob o altar de sua igreja, uma meiga em assaz felino olhar, outra assanhada e bola não dando ao cálix bento. A mão que me aperta. Será a estranha mão de Deus? Ou senão a tua mão delgada e esquia, com dedos de pianista? E essa boca, que degusta doce de banana e cajá manga será divina boca, aquela que nos eternizaria? Ou tão-somente tua boca louca, a que, profana, dá beijo de batôn na alma, no espírito e na carne? O resto, por encanto ou por recato, resumir este segredo à idade, tão confessional sendo o por natura de o fogo crepitar assim, volte o cronista à sua oficina de gradear o tempo. A fealdade, dir-se-ia sem metáfora, de como Cronos vai devorando seus filhos. E a beleza com que, já distantes do que fora Éden, lhe volteie nesse devorar a não demora do beijo que a cidade é grande, todavia. Agora, balbuciante, no mais baixinho de quando se apaga a vela, solidão de quando só cantaria o esparso galo da aldeia. Nós também teríamos o dó das estrelas...

in Tô arrumando os trem & essa fruta tá de quanto

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