sábado, 10 de abril de 2010

Outros sais na beira-mar (derradeira parte de um romance)

#12


Ainda sobre a cidade, Benjamim que até então pouco falara, pediu licença para nos ler uns versos do poeta José Luís Hopffer Almada. Era assim:

(…) Lembras-te, Lurdes/da cidade-capital/e de suas praças limpíssimas/imoladas sob a desdita sina/e dos sortilégios
do vitupério/dos vilipendiados signos/de secular capital
da colónia/renhidamente conservados? (…)

Benjamim perguntava pelo Turra, o cão, de repente desaparecido das nossas lembranças. Quis reeditar também aquela história rocambolesca do submarino imperialista, mais tarde baleia crivada de balas. Fez uma revisão sobre os apontamentos todos à sua mesa de trabalho e não compreendeu o porquê de ter sido escolhido para escrever este romance descontínuo. Se calhar, pelo seu amor reconhecido à cidade. Só que o apelo era ecuménico, não se resumindo à cidade ou ao arquipélago. Lídia, sabedora da história toda, haveria de guardar para si, as razões porque um cristão às vezes tem ímpetos de assassino. “O Velho Testamento se nos impõe como um axioma”, lá vinha o seu lado de matemático.Agora anoitecia. As estrelas, em zodíaco, iam para além da corola da lua. E à beira-mar, embora não o fosse, tudo continuava lânguido…quase inocente.

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