segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Toada

Margem terceira

Aproveito as férias pagas do pessoal para lembrar aos meus parcos leitores que não poderia escrever sobre o Estado da Nação. Disse ao editor, aos leitores e, sobretudo, a mim próprio que me andava a mancar engenho e arte para tanto. Fiz um genuíno esforço para ir à sessão da Assembleia Nacional e parei um bocado, do anel em que se assiste ao espectáculo do mundo, concluindo saber o que não seria para mim. Andei pelas ruas, vasculhando na face dos transeuntes, mas pude testemunhar um assalto e um acidente. Arre, que te fadaste a escrever estados da alma. Arre, que estás condenado a escrever outras loisas e novas glosas. Crónicas da terceira margem…

Cronos deste quotidiano

E há um cronista de serviço que divide o mundo entre ele, Deus e César. Inclusive, redefine a antologia dos poetas cabo-verdianos. Manda no onírico alheio. Ufana-se dono da República. Classifica os cartáveis e os descartáveis. E, em textos rascas e pequenos, desenha um pequeno Olimpo, onde os deuses da esquina masturbam seus egos. Faz pouco dos substantivos e delicia-se dos adjectivos, e faz, como o desvairado Narciso, de tudo seu espelho. Malhas nos vates e nos bacamartes. Até esse Estado da Nação esvai-se-lhe do próprio umbigo. Adivinhem que dou um doce. Ele é o abade dessa confraria. Procissão dos velhacos, só poderia. Às tantas, quero estar desavindo. Às tantas, quero outros caminhos…

Em dias de alma

Não é que o meu psiquismo interesse a alguém. Tão pouco o nexo dos meus dias se torna coisa pública. Provavelmente, o Estado da Nação suscite mais leituras que os meus interstícios. Os meus desassossegos são só meus e de mais ninguém. Neste Agosto, é o 2º aniversário do falecimento da minha mãe. Por isso, se me permitem, estou em dias de alma. As crónicas reflectem os meus dias, afinal. Mesmo quanto dou gargalhadas efusivas. Fernando Pessoa, numa “depressão sem fundo”, escrevera assim: Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem há desembarque onde se esqueça.

Se bastasse

Tu, como ninguém, soubeste porque eu lia (e lia-te silenciosamente também) os versos de Sophia de Mello Breyner Andreson. Soubeste-o e os meus dias passavam, de tão iguais e à mesma, lentamente. Versos que diziam: Cada dia é mais evidente que partimos/ Sem nenhum possível regresso no que fomos/ Cada dia as horas se despem mais do alimento:/ Não há saudades nem terror que baste…Tu, como ninguém, soubeste ser outra a minha toada. A outra minha estrada (só tu, que me ausentas, nesta margem terceira)…

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