sexta-feira, 26 de agosto de 2005

Viciosa chuva

O que à vigília cinzela o plúmbeo do céu,
Tu, e os outros, nesta acústica da pétala,
Só de saudades sois silêncio agora em mim
Ou de caos tão-somente no cosmos desta voz…

Todos os átomos e todas as poeiras giram
Suspensos no maluco carrossel das horas
E como relógios destravados de música
Soltam-se o alarme e o alarde na quietude…

Pura gota, minúscula que seja, de chuva
Que me desperta para o reencontro das coisas
E me olha das pedras que à vidraça soletra…

Escorrendo parte em meu corpo, de alma
Aqui liquefeita de uma viscosa boca tua
Que nos degusta o sal, fruto de poemas nós…


Filinto Elísio

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