O dó das estrelas
Cansado de uma ronda de reuniões, queria lidar a esta hora com a poesia, as artes, coisas realmente mais sublimes e mais sintonizadas com a alma. Para alguns, este frenesim é excitante e, por isso, adrenalina pura. Para mim, o cargo tem a ver com o encargo. A pesada canga da responsabilidade, condicionada ao odor bafiento dos gabinetes. Queria, se me permites, ouvir agora As Quatro Estações, de Vivaldi (Primavera, sobretudo) e, de olhos cerrados, visualizar o Roger Williams Park com os seus cisnes a deslizar na água. Hás de perguntar o que se passa comigo. Às vezes, quero perceber os versos de Fernando Pessoa: tenho dó das estrelas, luzindo há tanto tempo. Outras vezes, vou à Ponta Temerosa, que é o extremo desta minha cidade, e olho, com neurastenia, para o vasto e azulado vão. É que cansa, cansa mesmo, não poder contemplar o mundo. Há dias, em São Vicente, passei horas esquecidas com o Vasco Martins e o Tchalé Figueira, dilectos amigos, na grandeza silenciosa do Monte Verde. Silenciosa vírgula, pois, vez por outra, a beleza do mundo era invadida pelo grasnar de um corvo ou pelo piar de um falcão. Tão bom ouvir, ante o grande silêncio que a montanha exala, o ciciar dos bichos no nosso cansaço! Dirás que é meu karma. Ou simples questão de mantra este meu lado espiritual que atenta à perfeita sintonia e à curiosa clave entre o cantar de galo e as peixeiras madrugadoras a pregoar “cavala fresta”. Sim, fiquemos por esses nadas que – fumo violeta deste incenso –, vagam o meu pensamento para o além. E, antes que tarde mais no meu coração, te suplico que sejas poesia …
A surfar pelos blogs
Roubo tempo à burocracia, arre, e navego um bocado pelos blogs. Ultimamente, andamos todos bissextos nesta praça. Leio algo sobre o Tcheka Andrade, outro que admiro, e me sinto apaziguado. Se isto tudo fosse padrão Mayra & Tcheka! Temos de pensar no grande salto de qualidade para a nossa Cultura. O by-pass para a excelência não se compadece com algum assistencialismo artístico, um tanto ao quanto difícil de se desacelerar. Tão pouco significa marcar passo no tosco, quando o segredo é o bom acabamento e a apresentação de marca. E muito menos ficarmos a repisar o já visto, numa hora de inovação e competição. Obviamente, mais alma, como diria o matricial Orlando Pantera. Mas falava dos blogs e, desta feita, vou deixar algumas opiniões. Modestíssimas e exclusivas opiniões, diga-se. Posições nada a ver, mas ditas ao sabor do tempo, que a crónica, ela sim, tem a ver com o cronos e o resto é história. A propósito, com respeito às susceptibilidades e trocadilhos rascas, as "Alegrias" trazidas para esta "Praça" foram-nos impostas pelo monstro da incompetência, que a todos domina. Se para o mau entendedor, meia palavra besta; para aquele que vê alguma graça na desgraça, este vaticínio de que humor é um acto de inteligência. Ou seja, tem de ser cultivado, ora…
The Big Easy
Não posso pensar em Nova Orleães sem ouvir, remotamente, a música de Sidney Bechet. La vie en rose, executado em clarinete. Uma vez, em pleno Carnaval da cidade – The Big Easy, diz-se –, alguém tocara essa música, que é um pouco a minha infância, e eu não posso deixar de ligar uma coisa com outra. Depois, vejo-te a comer, com tanta gana, o Cajun Combination (jambalaya, gumbo, ostras, you may name it…), nesse restaurante da Bourbon St. E a fazeres fila, por umas horinhas de blues e zydeco, na House of Blues. O que será feita da House of Blues, na Decatur St? Pois é, estou triste. Triste, triste, triste, como no poema de Valentinous Velhinho. Acompanhei, com consternação, os estragos que o Furacão Katrina fez à cidade de Nova Orleães. Gente morta, desalojada, desesperada. Os diques e as comportas já não resultam. O saque saiu à ordem do dia. E a pobreza, muitas vezes escondida pelas imagens fabricadas, grita alto para todo o mundo ouvir. A cidade histórica ficou submersa. Um grande património mundial em perigo. A crioulidade ficou ferida. Entrementes, as antenas internacionais dizem que o preço do barril de petróleo fechou terça-feira nos 70,45 dólares no mercado de Nova Iorque, mercê da quebra na produção de 1,4 milhões de barris de petróleo. La vie en rose, é melodia que não sai do meu pensamento. Antes que tarde mais, vem em poesia…
Li na lém di Mulato
Tempo apenas para repisar: o Aeroporto Internacional da Praia é para ontem. O Platô Digital é projecto que merece o nosso aplauso. A circular é obra com letras maiúsculas. A pavimentação do Platô – de asfalto ou de pedra, ou, mesmo, o misto destes dois elementos –, já tarda. A capital enlameada, sitiada de chuva, é feia e dá para esquecer. Di-lo, com propriedade, José António dos Reis. Vamos todos, ciosos dos nossos republicanos direitos, ficar atentos. Construtivamente, diga-se. Já dizia Nho Naxu: ka nu sunha kordadu, pa nu ka durmi na forma…
quarta-feira, 31 de agosto de 2005
sexta-feira, 26 de agosto de 2005
Viciosa chuva
O que à vigília cinzela o plúmbeo do céu,
Tu, e os outros, nesta acústica da pétala,
Só de saudades sois silêncio agora em mim
Ou de caos tão-somente no cosmos desta voz…
Todos os átomos e todas as poeiras giram
Suspensos no maluco carrossel das horas
E como relógios destravados de música
Soltam-se o alarme e o alarde na quietude…
Pura gota, minúscula que seja, de chuva
Que me desperta para o reencontro das coisas
E me olha das pedras que à vidraça soletra…
Escorrendo parte em meu corpo, de alma
Aqui liquefeita de uma viscosa boca tua
Que nos degusta o sal, fruto de poemas nós…
Filinto Elísio
Tu, e os outros, nesta acústica da pétala,
Só de saudades sois silêncio agora em mim
Ou de caos tão-somente no cosmos desta voz…
Todos os átomos e todas as poeiras giram
Suspensos no maluco carrossel das horas
E como relógios destravados de música
Soltam-se o alarme e o alarde na quietude…
Pura gota, minúscula que seja, de chuva
Que me desperta para o reencontro das coisas
E me olha das pedras que à vidraça soletra…
Escorrendo parte em meu corpo, de alma
Aqui liquefeita de uma viscosa boca tua
Que nos degusta o sal, fruto de poemas nós…
Filinto Elísio
quarta-feira, 24 de agosto de 2005
Insólitos ou nem isso
Fidalgo Preto
Fico feliz e eufórico, pois desta feita ganhou o Prémio Sonangol da Literatura – 2005, o amigo e confrade Álvaro Ludgero Correia, com o pseudónimo literário Fidalgo Preto. O romance intitula-se “Baban – O Ladino” e alarga a bibliografia cabo-verdiana com o romanesco. Ludgero Correia sabia-o bom cronista, dos que dizem as verdades com laivos de humor. Como intelectual que se preza provoca reacções mil, umas de amor, outras de ódio, mas nenhuma de indiferença. E como cidadão, ele faz presença, diria mesmo que é dos tais que tem peso e ocupa espaço. Espera-se que Cabo Verde se dê conta de quanto o prémio a todos prestigia. Ano do trigésimo, do milénio, do PDM, da universidade, do Grammy…palmas para Cabo Verde. Com perdão às vossas senhorias do Pró Praia (bem como da outra comandita mais estreita), palmas para Álvaro Ludgero Correia, nosso Fidalgo Preto!
Livro e festival
Olha, terminei o último verso do livro Das Frutas Serenadas. Fiquei mais leve, quase a flutuar. Ou a levitar. Escrever um livro tão íntimo que, já feito, nos fica este travo de melancolia. O mundo é um grande leviatã, sabes. Uma antropofagia que nos engole lentamente. Depois passei horas esquecidas a ver, pela televisão, o directo do Festival da Baía das Gatas. Boa moldura humana, excelente civismo e homenagem merecida. Luís Morais, a quem tive o privilégio de apresentar no Fesquintal de Jazz, na cidade da Praia, é um instrumentista que transcende. Voltando à Baía das Gatas, gostei demais de Dulce Pontes e os rappers vindos da França detestei. Já, ao amanhecer, reli os manuscritos do meu livro e revi as ilustrações do Mito que irão também separar os respectivos cadernos internos. Não sei se por urgência desta vigília, ou se por insónia mesmo
Pedrada no charco
Uma pedrada inconsequente, de pura rebeldia ou perturbação juvenil, contra as vidraças da Câmara Municipal de São Vicente quase roubou o show da Baía das Gatas, não fosse a providencial Dulce Pontes, e já o feito levava o arzinho de mais um quiproquó político entre a edilidade e o governo. Ai, o peso das pedras! Enquanto o circo recolhe a sua tenda e a procissão regressa ao adro, há alguma gente – aquela que Arménio Vieira caracterizaria de “gente oca, cabecinha de alfinete” – pronta para do insólito tirar um bocado de partido. Em verdade, esse quase incidente, lamentável, diga-se de passagem, servirá (já agora) como uma chamada de atenção, uma pedrada no charco de todos nós. O que o insólito não provoca! Agora, devagar, devagarinho, à maneira do samba, não seria outra loisa, uns e outros, nos olharmos todos de frente, olhos nos olhos…sem pedra na mão?
Despertar
Acordo indisposto. Alguém pragueja e esconjura a madrugada. Já não suporto tamanha ignomínia. Apetece-me gritar, voar, fugir. Apetece-me desaparecer do mapa. Andar noutra geografia. Ouvir som de flauta, beber água pura, ter paz. Choveu toda a noite. Ainda quis ver algo na televisão, mas a emissão foi-se. Isto é muito precário. Uma boa pancada de chuva e não há emissão televisiva. O jeito é ouvir música. Não na rádio que, a esta hora, se ajeita a programação com zoukada e o barulho afim. Pode? Adiante que a canalha dá cartas…
Mindelact
O 11º Festival Internacional de Teatro do Mindelo estará em cena de 8 a 18 de Setembro e não participar dele, mesmo como mero espectador, é perder. Quando digo perder, estarei a querer dizer o perder a oportunidade de ver as obras em desfile, o ambiente festivo e a organização que nos diz a todos de que a qualidade, mais do que uma porrada de patrocínios, tem a ver com engajamento e inovação. Mais do que teatro em si, o Mindelact é excelência de organização. O resto será este depois da chuva. O céu, em cambiantes ainda de cinzento, anuncia o fim da tarde. Na fímbria desta hora, entre a luzinha da alba e a minha solidão, alguém assobia ao longe uma velha melodia. A crónica da cidade fica para depois. Nunca é tarde, nunca é demais…
Fico feliz e eufórico, pois desta feita ganhou o Prémio Sonangol da Literatura – 2005, o amigo e confrade Álvaro Ludgero Correia, com o pseudónimo literário Fidalgo Preto. O romance intitula-se “Baban – O Ladino” e alarga a bibliografia cabo-verdiana com o romanesco. Ludgero Correia sabia-o bom cronista, dos que dizem as verdades com laivos de humor. Como intelectual que se preza provoca reacções mil, umas de amor, outras de ódio, mas nenhuma de indiferença. E como cidadão, ele faz presença, diria mesmo que é dos tais que tem peso e ocupa espaço. Espera-se que Cabo Verde se dê conta de quanto o prémio a todos prestigia. Ano do trigésimo, do milénio, do PDM, da universidade, do Grammy…palmas para Cabo Verde. Com perdão às vossas senhorias do Pró Praia (bem como da outra comandita mais estreita), palmas para Álvaro Ludgero Correia, nosso Fidalgo Preto!
Livro e festival
Olha, terminei o último verso do livro Das Frutas Serenadas. Fiquei mais leve, quase a flutuar. Ou a levitar. Escrever um livro tão íntimo que, já feito, nos fica este travo de melancolia. O mundo é um grande leviatã, sabes. Uma antropofagia que nos engole lentamente. Depois passei horas esquecidas a ver, pela televisão, o directo do Festival da Baía das Gatas. Boa moldura humana, excelente civismo e homenagem merecida. Luís Morais, a quem tive o privilégio de apresentar no Fesquintal de Jazz, na cidade da Praia, é um instrumentista que transcende. Voltando à Baía das Gatas, gostei demais de Dulce Pontes e os rappers vindos da França detestei. Já, ao amanhecer, reli os manuscritos do meu livro e revi as ilustrações do Mito que irão também separar os respectivos cadernos internos. Não sei se por urgência desta vigília, ou se por insónia mesmo
Pedrada no charco
Uma pedrada inconsequente, de pura rebeldia ou perturbação juvenil, contra as vidraças da Câmara Municipal de São Vicente quase roubou o show da Baía das Gatas, não fosse a providencial Dulce Pontes, e já o feito levava o arzinho de mais um quiproquó político entre a edilidade e o governo. Ai, o peso das pedras! Enquanto o circo recolhe a sua tenda e a procissão regressa ao adro, há alguma gente – aquela que Arménio Vieira caracterizaria de “gente oca, cabecinha de alfinete” – pronta para do insólito tirar um bocado de partido. Em verdade, esse quase incidente, lamentável, diga-se de passagem, servirá (já agora) como uma chamada de atenção, uma pedrada no charco de todos nós. O que o insólito não provoca! Agora, devagar, devagarinho, à maneira do samba, não seria outra loisa, uns e outros, nos olharmos todos de frente, olhos nos olhos…sem pedra na mão?
Despertar
Acordo indisposto. Alguém pragueja e esconjura a madrugada. Já não suporto tamanha ignomínia. Apetece-me gritar, voar, fugir. Apetece-me desaparecer do mapa. Andar noutra geografia. Ouvir som de flauta, beber água pura, ter paz. Choveu toda a noite. Ainda quis ver algo na televisão, mas a emissão foi-se. Isto é muito precário. Uma boa pancada de chuva e não há emissão televisiva. O jeito é ouvir música. Não na rádio que, a esta hora, se ajeita a programação com zoukada e o barulho afim. Pode? Adiante que a canalha dá cartas…
Mindelact
O 11º Festival Internacional de Teatro do Mindelo estará em cena de 8 a 18 de Setembro e não participar dele, mesmo como mero espectador, é perder. Quando digo perder, estarei a querer dizer o perder a oportunidade de ver as obras em desfile, o ambiente festivo e a organização que nos diz a todos de que a qualidade, mais do que uma porrada de patrocínios, tem a ver com engajamento e inovação. Mais do que teatro em si, o Mindelact é excelência de organização. O resto será este depois da chuva. O céu, em cambiantes ainda de cinzento, anuncia o fim da tarde. Na fímbria desta hora, entre a luzinha da alba e a minha solidão, alguém assobia ao longe uma velha melodia. A crónica da cidade fica para depois. Nunca é tarde, nunca é demais…
quarta-feira, 17 de agosto de 2005
Monumenta
Monumenta
O Memorial à Fome e às Vítimas da Tragédia da Assistência, a ser construído na rotunda de São Januário, orla marítima da cidade da Praia, é um monumento que fazia falta a Cabo Verde. A Fome (com letra bem maiúscula) é algo que deve ser sublimado e exorcizado, não a através do esquecimento, mas pela via da memória. Tal como os judeus fazem com o Holocausto. E os africanos (e sua diáspora) pretendem fazer com a Escravatura. Um obelisco, em tríade multidimensional, dirá sempre aos cabo-verdianos de que a tragédia pode ser a alavanca de um grande futuro. Vimo-lo há dias nas cerimónias do 60º aniversário da bomba atómica (inédita selvajaria humana, diga-se de passagem) sobre Hiroshima. Haveremos de correr a marginal e problematizar a Fome como um recurso para o futuro. Esta também é uma grande contribuição do 30º aniversário da Independência Nacional…
Nós e a cidade
Deixa andar, que a cidade não há de notar a nossa ausência. Tudo corre, como tem mesmo de correr, sem nós. Ou apesar de nós. E, se somos importantes – ainda que a enorme cloaca urbana isso desconheça –, somo-lo no remanso de que uma simples borboleta também o seja. Deixa andar e canta-me nesta caminhada aquela quadra já liberta das palavras. Ser cronista é ser deste tempo testemunha e deste lugar narrador da acta. O que sobra é ledo engano e o sol, por mais que os deuses pequenos esbracejem, nascerá sempre no mesmo lugar. Não te preocupes se A, B ou C, veja nestas linhas um puro cantar de galo. Em democracia, cada um tem direito a seu delírio e, se não está constitucionalizado, chamam ao intelectocrata para que introduza mais este disparate. Quanto à estética, bem isso exige cuidado adicional. A Poesis não surge por acaso. Mas, deixa andar… a cidade não há de notar a nossa ausência.
Do grande Pranchinha
Arguto e desperto, parecendo sempre de vigília, ei-lo o grande Pranchinha que a canalha julga de somenos importância. Mas haverá gente tão essencial quão nossa própria sombra? Aquela assaz interior que, perdidos no labirinto da vida, nos apresenta o fio de Ariadne? Claro está que a personagem estará pintada de fresco. Uma primeira demão para animar a malta, pois sob a resina da comédia inventaram gregos antigos a tragédia. Dizia, é o Pranchinha sempre atento que dá prumo às minhas vertigens e, quando me sente D. Quixote, se arma comigo em Sancho Pança. Por isso, vossas senhorias perdoem-me este à parte, mas falar deste meu alter-ego, como do vosso uso dizer, é condição sine qua non…
Promessa
Jamais deixarei morrer cá dentro o viés que transforma esta amargura em poesia. O grito que me teima, mas que tu guardas no instante dos sentidos, saberá sempre em mim como um sopro de vida. E, se não vou à noite como quem vai à maresia, começarás tu a dissipar a neblina no horizonte dos caminhos por andar. É-nos pouco o tempo, mas naveguemos numa alegria sem demora. Diante do mundo, algo mais do que esta enseada de águas mansas, não quererá a eternidade ser parte do abalo ou do desvario. Simplicidade apenas, de remanso com que as horas são batidas monocórdicas no relógio. E todos os fados são universos de cada transeunte.
Mas poeta és tu
Não te posso dizer que nesta estação somos felizes. Nem que, ao espectáculo do mundo, temos razões para aplaudir. A cada dia, nessa idade de Cristo em que tu andas, fazes melopeia à vileza do quotidiano. Poeta és tu e o resto é treta. A palavra disposta em fila, rima e métrica. Verso saído do quadrado aceite pela praça. Metáforas de acordo com a Constituição. Ingénuo quem pense com o verbo tão-somente sanear a alfurja dessa gente. A mediocridade que se obstina, querendo seja esta uma hora minguada, demanda aqui ingente luta e o poeta, de solilóquio como estás apanhada, nada pode contra a língua vesícula de peçonha, que era como o grande Eugénio Tavares retratava os burocratas. Poeta és tu que não abres mão à beleza de um sol a pôr-se…
O Memorial à Fome e às Vítimas da Tragédia da Assistência, a ser construído na rotunda de São Januário, orla marítima da cidade da Praia, é um monumento que fazia falta a Cabo Verde. A Fome (com letra bem maiúscula) é algo que deve ser sublimado e exorcizado, não a através do esquecimento, mas pela via da memória. Tal como os judeus fazem com o Holocausto. E os africanos (e sua diáspora) pretendem fazer com a Escravatura. Um obelisco, em tríade multidimensional, dirá sempre aos cabo-verdianos de que a tragédia pode ser a alavanca de um grande futuro. Vimo-lo há dias nas cerimónias do 60º aniversário da bomba atómica (inédita selvajaria humana, diga-se de passagem) sobre Hiroshima. Haveremos de correr a marginal e problematizar a Fome como um recurso para o futuro. Esta também é uma grande contribuição do 30º aniversário da Independência Nacional…
Nós e a cidade
Deixa andar, que a cidade não há de notar a nossa ausência. Tudo corre, como tem mesmo de correr, sem nós. Ou apesar de nós. E, se somos importantes – ainda que a enorme cloaca urbana isso desconheça –, somo-lo no remanso de que uma simples borboleta também o seja. Deixa andar e canta-me nesta caminhada aquela quadra já liberta das palavras. Ser cronista é ser deste tempo testemunha e deste lugar narrador da acta. O que sobra é ledo engano e o sol, por mais que os deuses pequenos esbracejem, nascerá sempre no mesmo lugar. Não te preocupes se A, B ou C, veja nestas linhas um puro cantar de galo. Em democracia, cada um tem direito a seu delírio e, se não está constitucionalizado, chamam ao intelectocrata para que introduza mais este disparate. Quanto à estética, bem isso exige cuidado adicional. A Poesis não surge por acaso. Mas, deixa andar… a cidade não há de notar a nossa ausência.
Do grande Pranchinha
Arguto e desperto, parecendo sempre de vigília, ei-lo o grande Pranchinha que a canalha julga de somenos importância. Mas haverá gente tão essencial quão nossa própria sombra? Aquela assaz interior que, perdidos no labirinto da vida, nos apresenta o fio de Ariadne? Claro está que a personagem estará pintada de fresco. Uma primeira demão para animar a malta, pois sob a resina da comédia inventaram gregos antigos a tragédia. Dizia, é o Pranchinha sempre atento que dá prumo às minhas vertigens e, quando me sente D. Quixote, se arma comigo em Sancho Pança. Por isso, vossas senhorias perdoem-me este à parte, mas falar deste meu alter-ego, como do vosso uso dizer, é condição sine qua non…
Promessa
Jamais deixarei morrer cá dentro o viés que transforma esta amargura em poesia. O grito que me teima, mas que tu guardas no instante dos sentidos, saberá sempre em mim como um sopro de vida. E, se não vou à noite como quem vai à maresia, começarás tu a dissipar a neblina no horizonte dos caminhos por andar. É-nos pouco o tempo, mas naveguemos numa alegria sem demora. Diante do mundo, algo mais do que esta enseada de águas mansas, não quererá a eternidade ser parte do abalo ou do desvario. Simplicidade apenas, de remanso com que as horas são batidas monocórdicas no relógio. E todos os fados são universos de cada transeunte.
Mas poeta és tu
Não te posso dizer que nesta estação somos felizes. Nem que, ao espectáculo do mundo, temos razões para aplaudir. A cada dia, nessa idade de Cristo em que tu andas, fazes melopeia à vileza do quotidiano. Poeta és tu e o resto é treta. A palavra disposta em fila, rima e métrica. Verso saído do quadrado aceite pela praça. Metáforas de acordo com a Constituição. Ingénuo quem pense com o verbo tão-somente sanear a alfurja dessa gente. A mediocridade que se obstina, querendo seja esta uma hora minguada, demanda aqui ingente luta e o poeta, de solilóquio como estás apanhada, nada pode contra a língua vesícula de peçonha, que era como o grande Eugénio Tavares retratava os burocratas. Poeta és tu que não abres mão à beleza de um sol a pôr-se…
sexta-feira, 12 de agosto de 2005
Viagem
Em torno da odisseia das ilhas, creio levar
Neste puro desejo que me transcende, a senha
E a palavra-chave de os labirintos serem aqui
Simples lugares de passagem, apenas paisagem…
O andarilho palmilha todas as dunas, areias
De intermináveis desertos e todas as ondas
Que os oceanos concedem, quando furibundas
Ou, mesmo, serenadas e das praias acariciadas…
Sem culpa, nem sina – ou de Job puro devedor –,
Percorro de lés a lés o mapa que é de ti e do mundo
Como quem responde à morte o saldo estival…
Como quem salta para a eterna idade da vida
E fica suspenso entre a estrela e sua cadência
A riscar, de viajar tão-somente, o céu da noite…
Filinto Elísio
Neste puro desejo que me transcende, a senha
E a palavra-chave de os labirintos serem aqui
Simples lugares de passagem, apenas paisagem…
O andarilho palmilha todas as dunas, areias
De intermináveis desertos e todas as ondas
Que os oceanos concedem, quando furibundas
Ou, mesmo, serenadas e das praias acariciadas…
Sem culpa, nem sina – ou de Job puro devedor –,
Percorro de lés a lés o mapa que é de ti e do mundo
Como quem responde à morte o saldo estival…
Como quem salta para a eterna idade da vida
E fica suspenso entre a estrela e sua cadência
A riscar, de viajar tão-somente, o céu da noite…
Filinto Elísio
Côdea de sal
A José Luís Tavares
Corpo áspero de sal que aos meus dedos crispa
Cada cristal e, quase que nuvem feita pedra,
Brilha qual diamante ao sol, e, do seu zénite,
Deixo transcorrer o sonho pela água…
Saberás sempre que, em mim, se resume
À poesia esta motriz do vento e do moinho,
E a matriz que alinha, no mais puro linho,
O fiar das palavras no pano das metáforas…
Hás de me ver passar, em sepulcral silêncio,
Onde os ruídos e as ruínas quedam-se inertes,
Mister do Verbo ou de quão soberbo apanágio…
E deste simples ritual – dedos na côdea de sal –,
Aprenderemos nele o siso e o cisco das pedras,
Corpos das musas, errantes nós das geografias…
Filinto Elísio
Corpo áspero de sal que aos meus dedos crispa
Cada cristal e, quase que nuvem feita pedra,
Brilha qual diamante ao sol, e, do seu zénite,
Deixo transcorrer o sonho pela água…
Saberás sempre que, em mim, se resume
À poesia esta motriz do vento e do moinho,
E a matriz que alinha, no mais puro linho,
O fiar das palavras no pano das metáforas…
Hás de me ver passar, em sepulcral silêncio,
Onde os ruídos e as ruínas quedam-se inertes,
Mister do Verbo ou de quão soberbo apanágio…
E deste simples ritual – dedos na côdea de sal –,
Aprenderemos nele o siso e o cisco das pedras,
Corpos das musas, errantes nós das geografias…
Filinto Elísio
quinta-feira, 11 de agosto de 2005
Correspondências
Podia escrever sobre as ilhas e o cosmos. Mas hoje, dou-vos um cheirinho das minhas correspondências – três enviadas por mim e uma recebida do Luís Araújo. São milhares de cartas, round trip, a cronicar a vida, quase sempre de forma não autorizada e não publicável. Não é segredo do Estado, mas é o estado do segredo, o que dá às coisas mais recato e parcimónia. Uma ressalva apenas: não será por falta de assunto que deito mão às correspondências. Será por excesso dele. E uma estranha saudade do futuro. Ou, tão-só ganas de regressar à “estrada”. Vamos, então, a isso:
A. Flashes de três enviadas:
1. Caríssima Ambi,
(…) Pois é, continuo a escrever crónicas. Sem alguma pretensão de imparcialidade. Antes pelo contrário, não me concedo aqui à hipocrisia. Liberdade total. Não confundir com totalitária, pleaaaaase. Comentário e crítica são bem-vindos. Mas que o pessoal não exagere. Sou neto de António Leão Correia e Silva (o pai e não o filho do meu pai, entendes) e de João Henriques de Almeida Cardoso (pelo lado da mãe), razão bastante para ter nervos, fibra, ganas e raiva. A par deste muito amor aquariano. Para o que der e vier (…)
2. Prezado Crisolino,
(…) Neoliberal eu? Às tantas, hás de indagar se ajoelho e rezo diante dos altares. A riqueza é feita por todos. Cada um à sua maneira. Mas ela é distribuída só para alguns e aí o busílis. Alinho-me com Jorge Luís Borges quando afirma que é uma “irreligiosidade” crer no inferno. Infelizmente, eu acredito em duendes, mas não tenho ganho nada com isso. Pode? O Pranchinha diz que não. Mas para o Pranchinha, a humanidade só existe como pano de fundo longínquo, evanescente e irreal. Arre…(…)
3. Baixinha
Manhã azul, Baixinha. Como um peixinho mágico de riscas verdes, ele dá voltas no teu aquário. Sei que gostas do luar e das praias. Aposto mesmo que saibas cantar ao silêncio das noites caladas. Dizes que sou maluco. Meio real e meio ficção. Podes dizer que ando repetitivo, mas hoje estou com ganas de balbuciar o famoso poema de Vinícius de Moraes:
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
B. Flash da recebida de Luís Araújo
1. Caro amigo Filinto,
(…) Adoro a alegoria do David e Golias de que te serviste para chamar a atenção sobre os perigos que me espreitam. Desde que, ainda criança, a ouvi pela primeira vez a minha simpatia pelos Davids deste mundo foi imediata e, convocado pelo fantástico da proeza de David, tratei logo de arranjar também uma fisga para abater o primeiro Golias que me aparecesse. Já adulto, alguns foram os "meus Golias" que, também, consegui "arrumar", e tu os conheces bem (…)
(…) Realmente feijão com arroz hoje e arroz com feijão amanhã, outra vez, mesmo que servido com outras cores e odores em outra mesa, presidida por outro senhor, como resultado da alternância dos cozinheiros e príncipes da corte, torna-se um exercício semelhante ao do marcar passo da tropa na parada e a sociedade não é propriamente uma tropa subordinada a clubs de generais (…)
(…) Por isso, a mudança tem que ser sempre , essencialmente, o resultado criativo dum processo sistemático de rupturas culturais consecutivas que, com maior ou menor velocidade e grau de alteridade, irreversivelmente transforme a situação institucionalizando uma nova estética geradora duma norma que consiga fazer dos valores que a constituem as fundações dum universo institucional que a sustente e reproduza (…)
A. Flashes de três enviadas:
1. Caríssima Ambi,
(…) Pois é, continuo a escrever crónicas. Sem alguma pretensão de imparcialidade. Antes pelo contrário, não me concedo aqui à hipocrisia. Liberdade total. Não confundir com totalitária, pleaaaaase. Comentário e crítica são bem-vindos. Mas que o pessoal não exagere. Sou neto de António Leão Correia e Silva (o pai e não o filho do meu pai, entendes) e de João Henriques de Almeida Cardoso (pelo lado da mãe), razão bastante para ter nervos, fibra, ganas e raiva. A par deste muito amor aquariano. Para o que der e vier (…)
2. Prezado Crisolino,
(…) Neoliberal eu? Às tantas, hás de indagar se ajoelho e rezo diante dos altares. A riqueza é feita por todos. Cada um à sua maneira. Mas ela é distribuída só para alguns e aí o busílis. Alinho-me com Jorge Luís Borges quando afirma que é uma “irreligiosidade” crer no inferno. Infelizmente, eu acredito em duendes, mas não tenho ganho nada com isso. Pode? O Pranchinha diz que não. Mas para o Pranchinha, a humanidade só existe como pano de fundo longínquo, evanescente e irreal. Arre…(…)
3. Baixinha
Manhã azul, Baixinha. Como um peixinho mágico de riscas verdes, ele dá voltas no teu aquário. Sei que gostas do luar e das praias. Aposto mesmo que saibas cantar ao silêncio das noites caladas. Dizes que sou maluco. Meio real e meio ficção. Podes dizer que ando repetitivo, mas hoje estou com ganas de balbuciar o famoso poema de Vinícius de Moraes:
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
B. Flash da recebida de Luís Araújo
1. Caro amigo Filinto,
(…) Adoro a alegoria do David e Golias de que te serviste para chamar a atenção sobre os perigos que me espreitam. Desde que, ainda criança, a ouvi pela primeira vez a minha simpatia pelos Davids deste mundo foi imediata e, convocado pelo fantástico da proeza de David, tratei logo de arranjar também uma fisga para abater o primeiro Golias que me aparecesse. Já adulto, alguns foram os "meus Golias" que, também, consegui "arrumar", e tu os conheces bem (…)
(…) Realmente feijão com arroz hoje e arroz com feijão amanhã, outra vez, mesmo que servido com outras cores e odores em outra mesa, presidida por outro senhor, como resultado da alternância dos cozinheiros e príncipes da corte, torna-se um exercício semelhante ao do marcar passo da tropa na parada e a sociedade não é propriamente uma tropa subordinada a clubs de generais (…)
(…) Por isso, a mudança tem que ser sempre , essencialmente, o resultado criativo dum processo sistemático de rupturas culturais consecutivas que, com maior ou menor velocidade e grau de alteridade, irreversivelmente transforme a situação institucionalizando uma nova estética geradora duma norma que consiga fazer dos valores que a constituem as fundações dum universo institucional que a sustente e reproduza (…)
quarta-feira, 3 de agosto de 2005
Angelus Novus
1.
Gosto de passear pela orla marítima da cidade da Praia. Ver a baía, o apelo uterino da paisagem, o seu abrigo que antevê o mundo com um certo vagar. Ando pela calçada da marginal, os transeuntes circulam em azáfama de fim do dia e um bando de aves pousa na areia da Praia da Gambôa. Gosto de passear, assim sozinho, pela orla marítima e é quase certo que andamos sempre em espiral.
2.
De repente, percebe-se que a identidade existe não só pela origem comum, mas pelo destino comum. O vivermos colectivamente como destino é o grande leimotiv do desenvolvimento. E esta consciência interpela a todos e, no âmago, a cada um particular, para a saga colectiva. Tudo não passa de um grande périplo rumo ao infinito afinal. Entrementes, o tempo existencial do indivíduo pode ajustar-se ao percurso épico de um povo. Senti isso, na pele, ao participar nas comemorações do 30º Aniversário da Independência Nacional. Parafraseando Padre António Vieira: a festa mais de todos e a festa mais de cada um. Dir-se-ia que o vento trans-histórico bafejou a minha face e me deixou marcas por fora. Já nem direi do que me vai cá dentro. O tempo, que nasce com o homem, não pode ser compreendido de molde apenas objectivo. Deve ser visto crítica e historicamente no modo como ele é vivido pela complexidade do sujeito. Há um quadro de Paul Klee intitulado Angelus Novus. Vale a pena conhecê-lo. Ele representa um anjo a afastar-se de algo que encara fixamente. Os vários elementos desse quadro dão a ideia da Fortuna, mas o Anjo encara-os como uma catástrofe única, à qual é preciso fixar os olhos com consciência de que toda a construção carrega a sua própria ruína. Assim, estes foram dias reais, mas com quê de metafísico. E, como diria Jorge Luís Borges, em El Aleph, o final da história só se pode contar em metáforas pois passa-se no Reino dos Céus, onde o tempo não existe…
3.
Escuto, com causa, o último disco de Tcheka Andrade. Este entendeu que a diversidade cultural é preciso. Cabo Verde só chegará à internacionalização e à globalização se conseguir apresentar, com qualidade e excelência, a sua Cultura. Isso de forma mais diversa possível. A sociedade cabo-verdiana reflecte, em sua própria génese, o pluralismo cultural. Somos uma síntese inter cultural e não apenas um mosaico de culturas. A nossa idiossincrasia está no aceitar a diversidade e transformá-la em matriz da nossa identidade cultural. Esta realidade intrínseca é a verdadeira teia que mantém a rede da nação cabo-verdiana, cerzida na sua geografia insular e da diáspora. Tcheka Andrade entendeu-o como poucos. Já agora, seria importante que a sociedade cabo-verdiana se inteirasse dos debates em curso sobre a diversidade cultural.
Gosto de passear pela orla marítima da cidade da Praia. Ver a baía, o apelo uterino da paisagem, o seu abrigo que antevê o mundo com um certo vagar. Ando pela calçada da marginal, os transeuntes circulam em azáfama de fim do dia e um bando de aves pousa na areia da Praia da Gambôa. Gosto de passear, assim sozinho, pela orla marítima e é quase certo que andamos sempre em espiral.
2.
De repente, percebe-se que a identidade existe não só pela origem comum, mas pelo destino comum. O vivermos colectivamente como destino é o grande leimotiv do desenvolvimento. E esta consciência interpela a todos e, no âmago, a cada um particular, para a saga colectiva. Tudo não passa de um grande périplo rumo ao infinito afinal. Entrementes, o tempo existencial do indivíduo pode ajustar-se ao percurso épico de um povo. Senti isso, na pele, ao participar nas comemorações do 30º Aniversário da Independência Nacional. Parafraseando Padre António Vieira: a festa mais de todos e a festa mais de cada um. Dir-se-ia que o vento trans-histórico bafejou a minha face e me deixou marcas por fora. Já nem direi do que me vai cá dentro. O tempo, que nasce com o homem, não pode ser compreendido de molde apenas objectivo. Deve ser visto crítica e historicamente no modo como ele é vivido pela complexidade do sujeito. Há um quadro de Paul Klee intitulado Angelus Novus. Vale a pena conhecê-lo. Ele representa um anjo a afastar-se de algo que encara fixamente. Os vários elementos desse quadro dão a ideia da Fortuna, mas o Anjo encara-os como uma catástrofe única, à qual é preciso fixar os olhos com consciência de que toda a construção carrega a sua própria ruína. Assim, estes foram dias reais, mas com quê de metafísico. E, como diria Jorge Luís Borges, em El Aleph, o final da história só se pode contar em metáforas pois passa-se no Reino dos Céus, onde o tempo não existe…
3.
Escuto, com causa, o último disco de Tcheka Andrade. Este entendeu que a diversidade cultural é preciso. Cabo Verde só chegará à internacionalização e à globalização se conseguir apresentar, com qualidade e excelência, a sua Cultura. Isso de forma mais diversa possível. A sociedade cabo-verdiana reflecte, em sua própria génese, o pluralismo cultural. Somos uma síntese inter cultural e não apenas um mosaico de culturas. A nossa idiossincrasia está no aceitar a diversidade e transformá-la em matriz da nossa identidade cultural. Esta realidade intrínseca é a verdadeira teia que mantém a rede da nação cabo-verdiana, cerzida na sua geografia insular e da diáspora. Tcheka Andrade entendeu-o como poucos. Já agora, seria importante que a sociedade cabo-verdiana se inteirasse dos debates em curso sobre a diversidade cultural.
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