Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pablo Neruda
Nosso fórum
O mundo está amedrontado pela justificada fúria da riqueza e do terror. E a questão essencial tem a ver com a Humanidade. E não apenas, como pretendem alguns, com a geo-política. E o sistema doutrinal (hoje globalitário e com filiação entre nós), que com a ideologia não se confunde, é aquele que legitima, sempre e a qualquer preço, a ordem dominante. Ora, temos de ser mais complexos e analisar, com parcimónia e sem fantasmas, este mundo que se arma em cão. É possível sim, nas ilhas e no cosmos, um novo mundo.
Adão desconhecido
Sempre que a Electra, por excesso de zelo ou de competência, nos falta com a energia eléctrica, facto frequente, pelo menos na capital do país, revejo mentalmente “Virgens Loucas”, de António Aurélio Gonçalves (o mestre da boa prosa) e fico à varanda, horas esquecidas, a ver as constelações. E tem sido assim, às escuras perante o firmamento, que me sinto grão de areia neste Universo e que me apetece escrever poesia. Na sala de visitas, a televisão apagada e a vela fragilmente acesa, exala um silêncio existencial. E, entre o ridículo que é o blackout da Electra (logo nesta cidade de maior demanda e de melhor receita!) e o romântico destas mãos para o vácuo, procuro, como no famoso quadro de Miguel Angelo, tocar os meus dedos aos de um Adão desconhecido...
Os astros de Neruda
Um dia, escrever-te-ei textos elegantes e excelentes. A minha literatura, então, será redimensionada pelo imperativo da beleza. Pela estética mais pura. As Belas Letras. Caudalosas prosas que, correndo o curso de um rio, extravasem suas águas no mar das palavras. Quem escreve, caro Pranchinha, quer no seu epitáfio apenas as datas de nascimento e de passamento; no seu obituário, acrescente-se-lhe que amou os seus filhos e as frutas serenadas da poesia. Quem escreve precisa de remanso e de descanso, algo como uma paz interior na seiva dos momentos. Um dia, havendo espaço para tanto, dir-te-ei como tiritam azuis os astros ao longe...
Doce Guerra
Apesar dos grandes avanços nestes 30 anos bem contados (e bem vividos), Cabo Verde - Doce Guerra, como vaticinou Antero Simas – continua a ser um país sob stress e sob o espectro da incerteza. Que os merecidos elogios, não nos façam esquecer esta secular contingência face à conjuntura internacional. No mundo interdependente e global, os frágeis, pequenos e pobres são menos iguais do que os outros. A esta hora importaria uma largada diferente, mais centrada na solidez endogénica e menos voltada para modismos importados. País insular, nação diasporizada e povo escolarizado, qual a próxima questão? Sustentabilidade parece ser a palavra-chave e a necessária procura. E qualidade a palavra de ordem (onde já ouvi isso?). Para o grande salto colectivo...
Slightly single
Caro amigo, nesta respiração assistida da solidão procuro sorrir. Para a manhã radiante. Ou, simplesmente, para o bom dia de um transeunte. Eu queria sentir agora, como nos versos de Fernando Assis Pacheco, uma paz assim fresca/ sem grandes gestos/ escusados. E eis que Neruda termina assim o lindo pórtico: Aunque ésta sea el último dolor que ella me causa/ y éstos los últimos versos que yo le escribo.
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