sexta-feira, 11 de março de 2005

Blog Nota 5

Fragoso e Branco

Do debate…bem, do pretenso debate sobre o teatro em Cabo Verde, iniciado em boa hora, e com polémica, por Francisco Fragoso, salva-se, dum lado, a impressão de que novas luzes e outras dinâmicas começam a germinar; doutro lado, fica o travo de que continuamos provincianos e tacanhos. Numa rotação mais lenta da que este mundializado planeta, diga-se. Tanto Francisco Fragoso como João Branco muito fizeram, e fazem, pelo teatro em Cabo Verde. Torna-se, por isso, normal que, diante de tanta convergência, existam entre eles pontos (e pomos) de discórdia. Mas o inferno…são os claquistas de parte a parte. Estes continuam saudosistas, dependentes e bairristas, quando não racistas. E trocam farpas de levar por casa. Um verdadeiro festival do maniqueísmo e da mediocridade. Debater teatro é saudável e é isto que o país precisa. De um amplo debate cultural ao fim e ao cabo…

Espuma que já bateu na praia

Outro debate que desponta é sobre a oficialização do crioulo. E tudo indica que, contrariamente à Igreja Católica que, há muitos anos, deu à língua materna o estatuto litúrgico, a nossa dita intelectualidade treme nas bases. Muitos consagrados e com lugares marcados nos pequeníssimos pedestais, temem introduzir algo que os obrigue a repensar, a reaprender e a revalorizar. Será demasiado trabalho para uma intelectualidade que vê o mundo de um horizonte pequeno. Só que a oficialização do crioulo deixou de ser uma onda que se adensa, mas uma espuma que já bateu na praia…

Agora que a vida nasceu

Em verdade, Cabo Verde, agora que a vida nasceu, precisava ter disto tudo (e bem à Eduardo Pitta): os artistas «nascidos de cu para a lua», os «funcionários», os «mediáticos», os «velhíssimos», os «novos», os «novíssimos», os «urbanóides», os «do Partido», os «picantes», os «malditos», os «marginais», os «tardo-Dada», as «socialites-escritoras», os «laterais», os «colunistas», os «candidatos», os «jornalistas», os «psicoterapeutas», os «académicos», os «S/M», os «políticos», as «feministas», as «professoras», os «deputados», as «escritoras do Graal», os «gay off the record», os «palopianos», os «venéreos», os «crioulistas», os «fedorentos radical-chic», etc.


Da paz era o nome do largo

O largo por ironia chamava-se da paz. E eu, por redundância, quis fazer as pazes entre dois amigos. As circunstâncias (não importam aqui as razões) fizeram com que estivessem de costas voltadas. Nem conto nesta terra onde tudo se sabe. Mas estamos em tempo de criação, que diabo! E tempo não haverá para odiar tanto. O que sobra será do amor. Da amizade. Ledo o meu engano. Vociferantes e maldizentes, prontos para a primeira pedra. Para mim, bastou. O meu teatro é de tirar, e não colocar, a máscara. Saio para o Largo da Paz e sinto-me mais livre que nunca, embora triste pela perda. Por ironia, balbucio o nome da placa que dá nome ao largo…

Dá Fala

A revista Dá Fala foi lançada, com sublinhado frisson cultural, no Palácio da Cultura Ildo Lobo. É uma revista com gráfica solta, que desafia laudas, margens e sequências. Com um conteúdo múltiplo, ainda não totalmente definido, mas que se orienta para as artes, letras e ideias. Por tudo isso, é uma iniciativa bem-vinda que me lembrou, primeiro, a revista Ponto & Vírgula e, segundo, a folha cultural Sopinha do Alfabeto. Com Artiletra, já no mercado cultural há década e meia, Dá Fala é mais uma valência editorial. Num tempo em que as novas tecnologias também se derivam para o campo gravítico da cultura. Os blogs que o confirmem - Lantuna, Os Momentos e Aulil, entre os mais dinâmicos…

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