segunda-feira, 6 de dezembro de 2004

Divagações

Filinto Elísio
Campo de Concentração

Prometi ficar atento ao Tarrafal, de Santiago, graças à Festa da Juventude Graciosa, causa próxima. Convencido de que se torna preciso e urgente um outro olhar sobre esse Concelho, vou escrevendo, de forma bissexta, mas resoluta, sobre as realidades que importam (do meu ponto de vista, naturalmente) mudar. Sem entrar no âmago das turras políticas que fazem o nosso quotidiano neste país e têm especial tempero nos meios pequenos, terei sobre o Tarrafal um olhar amigo, solidário e crítico. Deu-me para pensar no Campo de Concentração, em Chão Bom, criado há mais de 70 anos e que conta muito da história colonial de Cabo Verde. Das outras ex colónias portuguesas e de Portugal. Olho para o Campo de Concentração e para o seu grito – ainda silencioso – de reinvenção do real. Importava perceber (mas com acções concretas, minha gente) que o Tarrafal é também espaço de lembranças, quinquilharias e reminiscências. Coisas que não cabem senão no velho baú da memória. Incomodam? Que incomodem! O grande capital do futuro é o homem…


Kafuka – Cine-clube da Praia

Os amantes do cinema já podem ver, mais do que olhar, para a tela. Um grupo de jovens quadros cria um Cineclube, na cidade da Praia. Algo alternativo ao cinema dos circuitos comerciais e das videotecas da capital. Seja esta iniciativa uma antevisão da cultura cinemateca. A importância de um clube de cinema na formação de plateias, de um núcleo difusor da cultura cinematográfica e na deflagração de uma geração cinemateca é inquestionável. Em verdade, precisamos reinventar uma geração capaz de pressentir cinema como um veículo de expressão artística. Vivemos, aqui e agora, sem a possibilidade de contemplação de outras linguagens cinematográficas, porque este nosso mercado, cifronista e medíocre, não oferece outra opção senão o espectáculo narrativo simplista, imperando a idolatria do mau com efeitos especiais. Precisamos reinventar uma geração capaz de ver Ford, Kurosawa, Buñuel, Eisenstein, Resnais, Fellini, De Sicca, Pasolini, Scolla, Welles, Wilder, Truffaut, Renoir, Bergman, Allen, Almodôvar e outros cineastas de fina estampa. Como diria José Lino Grünewald, «Cinema se aprende indo ao cinema». Agora ou nunca. Numa época em que a indústria do vídeo (e os seus cânones narrativos), qual metástase doentia, tenta estrangular a estética do cinema, há que reinventar espaços e ambientes para se ver filmes de qualidade. Por isso, palmas para essa juventude que ousa dar uma pedrada no charco. E eis que o cineclubismo reentra para a vida da cidade. Já não era sem tempo…


Frank

Encontrava-se, aqui há dias, em visita privada, Francisco L. Borges, mais conhecido nos Estados Unidos, por Frank L. Borges. Figura proeminente nas esferas académicas, políticas e financeiras, Borges é secretário-geral de uma das grandes empresas imobiliárias americanas, a Landmark Partners. Especialista em finanças, mais precisamente nas estratégias, nos investimentos e no desenvolvimento do capital aplicado, Frank deveria ser paradigma, não apenas em Wall Street, mas neste Cabo Verde de esperança e a querer Millenniun. Mas Frank, vê-se logo que a nossa imprensa estava desatenta, pautou a sua trajectória em defesa de causas civis e políticas, não só como tesoureiro da National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), maior associação americana para a defesa das minorias raciais, como na direcção da Hartford Foundation for Public Giving, da University of Connecticut Foundation e da companhia Highland Hospitality. Borges serviu, por dois mandados, como o Secretário de Tesouro do Estado de Connecticut (de 1986 a 1993), antes de ser apontado como director e membro do conselho da administração do poderoso grupo financeiro e segurador GE Capital’s Financial Guaranty Insurance Corporation, em Nova Iorque. Ele também já foi vice-presidente da câmara de Hartford, capital do estado de Connecticut, perto de onde nasceu o pianista Horace Silver, outro ilustre de origem cabo-verdiana. Esta aparente resenha biográfica pretende apenas chamar atenção aos incautos e repetir que o grande capital do futuro é o homem…

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