“A Invenção do Amor” (de Daniel Filipe) dá expressão ao Dia Mundial da Poesia na Cidade Velha. No dia 21, às 19 horas, o Terreru di Kultura, na Baixa da Cidade Património da Humanidade, serve de palco a esta celebração que faz parte do calendário da UNESCO. “A Invenção do Amor” será dito a três vozes (as de José Braga-Amaral, de Sueli Duarte e de Nuno Rebocho), num ambiente adequado ao dramatismo expresso neste grande poema do autor cabo-verdiano que tem lugar de destaque na história tanto da literatura portuguesa, como das literaturas lusófonas.
Nascido na ilha da Boa Vista em 1925, Daniel Filipe foi levado muito novo para Portugal, onde cresceu e se fez homem. O seu inconformismo com o regime totalitário então vigente em Portugal, fizeram dele um autor que o colonial fascismo salazarista tentou silenciar. Mas os seus poemas (como “A Invenção do Amor”, 1961, e “Pátria, Lugar de Exílio”, 1963) tornaram-se denúncias e armas altissonantes que nem a Censura nem a PIDE (polícia política de Salazar) conseguiram neutralizar. Democrata convicto, Daniel Filipe foi dos primeiros a tomar partido pela candidatura presidencial do Marechal Humberto Delgado, em 1958, escrevendo a este respeito um romance notável, “Manuscrito na Garrafa” (1960).
“A Invenção do Amor”, escrito e publicado em 1961, ano em se intensificou a luta contra o regime de Salazar e nas colónias dominadas por Portugal eclodia a luta armada que conduziu às suas independências e ao derrube do totalitarismo português, deu continuidade ao intervencionismo de Daniel Filipe, saliente nos seus textos na revista “Seara Nova” e sobretudo na importantíssima revista cultural de que foi um dos fundadores e também director, “Notícias do Bloqueio”.
Daniel Filipe morreu novo, em 1964. Veio falecer a Cabo Verde, nunca escondendo a sua esperança de liberdade para os dois países nos quais decorreu a sua vida – Portugal e Cabo Verde, cuja independência e democratização desejou. Deixou uma bibliografia de notável qualidade, onde, além dos títulos já citados, são também de referir “Missiva” (1946), “Marinheiro em Terra” (1949), “O Viageiro Solitário” (1951), “Recado para a Amiga Distante” (1956) e “A Ilha e a Solidão” (1957), este distinguido com o Prémio Camilo Pessanha.
A Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, que promove esta sessão em colaboração com Terreru di Kultura, orgulha-se de celebrar assim o Dia Mundial da Poesia.
Tendo como seus Cidadãos Honorários poetas como Mário Fonseca e Oswaldo Osório, Cidade Velha chama todos os seus amigos a festejar, com mérito, a Poesia num lugar que já construiu incontornáveis tradições culturais. Será uma sessão a não perder.
Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, 19 Março 2010
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