Em terra
Mal refeito da dose intensiva de estudo – não só para adiantar os exames do semestre lectivo, mas sublimar a perda existencial aqui instalada –, regresso à terra. E isto é bíblico: o filho é sempre pródigo e seu regresso celebra-o a confraria. Não poderia deixar de assinalar os abraços dos familiares e amigos. O sol dos corações, apesar da frieza das horas, continua aquecido à minha chegada e dou comigo a navegar no dilema, onde o merecido e o compadecido jogam ao espadachim da sorte. Direi que tudo e nada tem a ver comigo nesta urbe, ora radiosa, ora inquinada, mas para mim sempre útero, incubadora e berço. Minha metáfora, se é que a tenho, roda o mundo, mas acaba no remanso e no regaço da Praia de Santa Maria. Meço-a pelas lágrimas vertidas e pelas gargalhadas sonorosas a cada novidade. Abomino os seus desuses de esquina, os seus palanqueiros e a meia missa dos seus fariseus, lá isso é verdade. Não morro de amores ao gado tacanho, não da boiada surrealista que atravessa a Praça do Palmarejo, mas dos senhores de antanho, hoje caducados e com manduco na mão. Mas sou sim de amores, quase todo paixão, pelo pulsar das coisas. Das nuvens brancas para lá do Ilhéu de Santa Maria às ressequidas plantas de seiva resistente, passando pela pracinha refeita e agora campus universitário, tudo me encanta no âmago. E faz-me pensar no vaticínio poético de Mário Fonseca, pois realmente…a vida nasceu.
Porto da Praia
Tomo parte do debate sobre o “Desenvolvimento do Porto da Praia”, no quadro de uma conferência organizada pela Comunidade Portuária da Praia. Esta iniciativa louvável foi uma grata oportunidade de sentir o pulsar da opinião pública em relação à problemática. A autonomização da gestão do Porto da Praia parece ser a grande demanda, algo que interpela à reforma institucional do sector dos portos e à reestruturação da própria Comunidade Portuária da Praia, para se capacitar a uma parceria efectiva e estratégica no quadro de tal desiderato. De resto, do ponto de vista da requalificação da cidade, o actual porto não nos serve da maneira em que está. Enfim, desafios para os quais temos de estar atentos e acesos – verdadeiras questões a ter em pauta, numa terra onde as opiniões perdem-se pelos cafés, diante da força provincial das bizantinices.
Claridade
Começo a dar corpo a uma pesquisa sobre Jaime de Figueiredo, intelectual da Geração Claridosa, mas nem por isso a ela alinhada, a fim de participar de uma jornada de reflexão sobre o Centenário do nascimento dos claridosos, que o Ministério da Cultura pretende para o próximo ano. Jaime de Figueiredo que, entre outras funções públicas e sociais, exerceu as de bibliotecário, antologiador e polemista, foi sem dúvida uma das mentes mais lúcidas, criativas e críticas do seu tempo. Em prol de uma análise mais estrutural que circunstancial do Movimento Claridoso, cuja matriz foi erigida por uma plêiade de grandes escritores como Baltazar Lopes da Silva, Manuel Lopes e Jorge Barbosa, importa sim dissecar o espírito dialéctico desta personalidade. Antes da obra “A consciencialização na literatura cabo-verdiana”, de Onésimo Silveira, que apontou a “primeira” grande crítica estrutural ao Movimento, Jaime de Figueiredo já perscrutava outras estradas dissonantes. Hoje, com as coisas vistas à distância, pode-se afirmar que a Claridade também foi grande pela geração do seu contrário. Que grande gente, que época pródiga…
& etc…
E, como dirá o Pranchinha, cáustico no seu eterno retorno, não falarei do aumento dos salários à classe política, nem da “carochinha” em torno do IVA aos combustíveis, lá o Super sabe das malhas com que cose. Dizia o Pranchinha, da dor dos seus fígados contra a fina mediocridade, que “Em tempos de farinha pouca, meu pirão primeiro”. Arre…
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