quarta-feira, 8 de novembro de 2006

As margens

Dom Quixote de la Mancha
Pablo Picasso



Guardando as margens

O que acontece nas ilhas? Os apontamentos desta semana dão conta do fórum “Pensar o Município da Ribeira Grande de Santiago”, iniciativa com laivos de luz ao fim do túnel. Lura apresenta "M’ Bem Di Fora", em Lisboa, e Ricardo de Deus lança “Fragmentos” no mercado, na cidade da Praia, duas novas enriquecedoras. A Universidade de Cabo Verde inaugura-se nos próximos dias, para uma espécie de “terceira libertação”. Passando pelos Blogs, hoje cada vez mais dinâmicos, gosto do post sobre o Slow Food. Vale como uma chamada de atenção neste mundo globalitário. O Fast Food acaba por ser o pior do neoliberalismo. Bem, já nem sei, porque o aquecimento global acaba também por ser assunto muito sério. Ideologias à parte, por um mundo onde todos regressem ao Slow Food e assinem o Protocolo de Quioto

Que bonita manhã, em Massachusetts

Deval Patrick, candidato democrata, elegeu-se governador do Estado de Massachusetts, transformando-se no segundo governador negro da história dos Estados Unidos. Patrick, de 50 anos, advogado formado na Universidade de Harvard, foi subsecretário da Justiça para os direitos civis no governo do ex-presidente Bill Clinton e ocupou cargos executivos na Texaco e na Coca-Cola. A eleição de Patrick sublinha uma mudança social drástica no Estado, onde as crianças negras foram atingidas com pedras e garrafas ao entrar de autocarros nas escolas brancas de South Boston, há apenas 32 anos, cumprindo uma ordem judicial contra a segregação. Manhã, que bonita manhã…

À espera de Godot

Nenhuma manhã nasce tão saudosa como na Wollaston Beach, em Quincy. Nem mesmo as manhãs radiosas de Fortaleza, a Bela. Tão pouco o amanhecer em Ponta do Atum, no Tarrafal, onde a ilha do Fogo se declara linda, linda, linda. Em Boston, estou sempre à espera de Godot, porque de facto esse nada é tudo o que existe. A propósito, leiam o drama “À Espera de Godot”, de Samuel Beckett. Sim, meus amigos, sou sensível a tudo o que acontece na cidade de Boston e no Estado de Massachusetts. Os meus filhos – Denzel, de 14 anos, e Pablo, de 4 anos – nasceram no Bay State e são, de corpo e alma, caboverdianos-americanos. Motivos, tenho-os de sobra. Não posso ficar indiferente às manhãs bonitas em Massachusetts…

A saudade

Eu já não sinto a lusitana saudade, fado que desatina o coração e resguarda da alma a solidão em réstia toda. Talvez isto se resuma a uma espécie de exílio, nau à deriva para um regaço incontido, e saiba à boca como uma insaciável secura. Quem sabe, um deserto sem fim, feito só de miragem, nuvem e viagem. Ou nada disso, a loucura, voragem com que os pássaros vão e não mais regressam. Desde a tua partida, eu já não fui igual. Não sou igual, repito. Levanto-me a meio da noite. Ouço o barulho das ondas a espraiar na areia branca. Vou á janela e, em pior tormento, não há vivalma. O sábio do Chico Buarque de Hollanda compusera estes versos: A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu…

Penso em Bê (1)

Faz anos, por estes dias, o meu irmão António. Aparentemente facto insólito, faits-divers mesmo, este aniversário acontece há três meses do falecimento da nossa mãe, Hermínia de Aguiar Cardoso Correia e Silva, de todos conhecida por Dona Mindoca. Esta circunstância me faz recordar o António, aos quatro anos, quando aprendia as primeiras letras e as soletrava em parelha. B-a + b-a, dizia a nossa mãe, e o António respondia Babá, para o alarido festivo da família. E, se alguém dissesse “penso em Bê”, o mano mandava Bebê. E era Bê de Beto, de Bélgica, de barco e de batata. Tudo isso, no que tinha de inusitado, remete a um processo fantástico da aprendizagem que foi marcando a nossa família ao longo dos anos. Parabéns ao Tó, pelos anos, pela sabedoria, por tudo. Pelo amor, sobretudo. Alguém, noutra galáxia do amor, estará orgulhoso a este momento…

Penso em Bê (2)

A poética, de tanta neurastenia, empresta-me soluções minimais - Em hora substantiva/penso em Bê/e blogo existo…


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