Anti-Semitismo em Cabo Verde
Fiquei indignado quando li uma nota jornalística, cuja manchete vinha nestes termos: Anti-Semitism subsidized by U.S.? Aid flows to Cape Verde regime that attacks Jews. E também acompanhei a lista dos emails, em forward, até à minha “caixa de correio electrónico”. Somando dois mais dois, vi claramente o quatro e o quadro de gente bem identificada que, uma vez mais e pela falácia, avilta a imagem de Cabo Verde. Não pude deixar de pensar, com náusea diga-se, que há um lado perverso neste nosso jogo democrático. Em verdade, a democracia só nos interessa, se for com verdade, pão e fonema. A democracia só é virtuosa se estribada na liberdade e no bem-estar, conceitos alargados e subjectivos, mas com uma sustentação cognitiva muito clara. O anti-semitismo não existe em Cabo Verde e não seria pelas opiniões irresponsáveis de Florenço Baptista, nem pelas reacções desproporcionadas de José Tomás Veiga que ele passaria a existir. Quase todos nós, cedo ou tarde, tivemos ascendentes judaicos e isso, assim como outras ascendências, não nos torna melhores, nem piores. O sermos mestiços significa que corre em nós o húmus antropológico de origem vária e recusar esta realidade é sermos empobrecedores. Mas o busílis da questão está na maliciosa tentativa de “denunciar” uma situação que não existe, com o fito de “encurtar” ou mesmo comprometer a assistência americana e/ou outra a Cabo Verde. A política do “vale-tudo”. Chegados aqui, peço-vos licença para vomitar…
Assessorando a Cultura
Ter servido no Ministério da Cultura me deu a enorme percepção das mudanças que o sector demanda. E não deixou de ser “uma verdadeira escola” partilhar o dia-a-dia profissional com Manuel Veiga, Ministro da Cultura, como assessor. Longas e caudalosas conversas (e sonhos, porque las hay…) e planos sobre a causa e a coisa da Cultura. Em verdade, precisamos de mudanças radicais a nível do sector, nomeadamente em questões da inclusão, da diversidade, do património, do livro e da leitura, da arquivística, da animação e, sobretudo, da internacionalização. Se quisermos fazer da Cultura um factor importante, se não mesmo aquele determinante do PIB, temos de encetar a triagem e a selecção do potencial, investir pesado na produção e introduzir um novo padrão de qualidade dos bens e serviços culturais. A lógica da subvenção indiscriminada, autentico hábito de FAIMO cultural, não nos levará a caminhos do sucesso e da excelência. É preciso reservar o subsídio institucional para os casos excepcionais e periclitantes. Para a maior parte dos casos, urge instituir créditos, com juros motivadores, que permitam a um tempo introduzir a noção do mercado artístico e a outro tempo estrategizar a inserção internacional da Cultura de Cabo Verde.
Traz di Som
Não podia deixar de assinalar o lançamento do álbum Traz di Som, de Ângelo (Djinho) Barbosa, ocorrido na última sexta-feira, no Palácio da Cultura. São 16 faixas de boa música, à procura ousada de novas sonoridades e de outras atitudes para com a Música. Projecto generoso e federador, Ângelo (Djinho) Barbosa, conseguiu o feito de reunir, para fazer coisa boa, 35 músicos de diferentes matrizes e matizes. É obra. Num tempo em que precisamos, como pão para a boca, de destrinçar o trigo do joio…
Intervalo
Não me é possível prosseguir esta crónica sem que a tristeza e a saudade aflorem à linha do texto. Os sentimentos invadem-me a escrita e eu nada mais sou do que um cronista de viagem. Queria ser cerebral e frio, pura faca incisiva na carne. Queria não ter pena dos dias soletrados nas horas. Nem lamentar o sol que, desaparecido no poente, voltará amanhã recauchutado e...fatalmente outro. Queria ser estrela cadente e riscar, com ilusória beleza, o silencioso céu. E, quem sabe, poder regressar ciente da minha prefaciadora das crónicas implacáveis. E dela ter, quiçá em retorno, um pródigo abraço...
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