domingo, 26 de março de 2006

Distante do Pranchinha


Nota necessária

O S/Cem Margens entra numa nova fase. Distante do Pranchinha. Os sinais foram dados nas últimas semanas. Fi-lo com enigma, naturalmente. A realidade sem a magia seria “bera”, o leitor poderá imaginar. Mas, sob o diáfano da sombra, deixei as pistas necessárias. A literatura tem a sua vertente confessional e Flaubert teria dito a grande verdade quando, sobre a pressão das autoridades e dos bons costumes, assumiu “Madame Bovary c’ est moi”. Tudo sou eu, ao fim e ao cabo, e daqui a alguns anos alguém dirá terem servido estas notas, em forma de crónica, para algum entendimento do espírito da época. Uma nova fase, repito, mais voltada a aspectos de uma actualidade de acuidade colectiva. Obviamente que, vez por outra, terei uma recaída. Afinal, o escritor não vende, por nada deste mundo, a sua criatividade…e a sua liberdade!

Brasil X Cabo Verde

Numa hora em que Cabo Verde almeja ancoras ou, se tanto, procura parcerias estratégias, não me parece descabido chamar a atenção da opinião pública sobre as relações com o Brasil. As afinidades históricas e culturais não faltam. Aquando a Independência do Brasil, no século XVIII, um coerente movimento da opinião pública cabo-verdiana queria indexar Cabo Verde a esse projecto refundador. Antes disso, milhares de escravos oriundos de Santiago haviam chegado a varias regiões brasileiras – Minas Gerais, Bahia, Alagoas, Ceara e Pernambuco, entre outras –, marcando espaço antropológico e cultural ate hoje pressentido. Em tempos menos recuados e mais contemporâneos, o Brasil manteve no imaginário crioulo e nada sintetizou tanto essa mística quanto o poema de Jorge Barbosa “Você, Brasil”. Alias, o Movimento Claridoso, que teve por arauto Jorge Barbosa, em 1935, e por consagração a Revista Claridade, em 1936, teve, entre as suas influências o Modernismo Brasileiro, mais precisamente a sua vertente regionalista (leia-se nordestina). Em verdade, as afinidades são tantas que não se sabe se o Brasil configura “um Cabo Verde grandão”, como afirma o Embaixador do Brasil Victor Gobato, em rasgo de fina diplomacia. Ou, se como vaticina a morna imortalizada por Cesária Évora, “Cabo Verde e um pedacin di Brasil”. Para lá destes aspectos, um tanto ao quanto sentimentais, continua a existir um grande potencial de cultura, diplomacia e negócios, ainda por explorar e alargar, nas relações entre os dois países. Numa nota afim, diria que alguns questionamentos podem ser levantados sobre o papel de Cabo Verde diante da aproximação brasileira em Africa, sobretudo em Africa Ocidental. Sendo membro da CEDEAO (com a vantagem comparativa da insularidade, da salubridade e da estabilidade político-social), Cabo Verde configura-se como um parceiro estratégico para as empresas brasileiras, de sectores bem determinados, na sua conquista do mercado oeste-africano. E os países da sub-região africana, pelas razoes acima abordadas, não encontrariam melhor parceiro que não fosse Cabo Verde para o import-export com o Brasil. Enfim, estes e outros questionamentos podem fazer sentido na actual fase do desenvolvimento de Cabo Verde, o que só seria coerente se, para alem da CV Investimentos, das Câmaras do Comercio e do próprio Governo, a questão fosse socializada em debate aberto junto a cidadania, sem prejuízo para a sua necessária pesquisa cientifica e académica. E quem diz Brasil, afirma também outras âncoras e parcerias em potencial. Importa, nesta fase transaccional do pais, realinharmos de forma critica e correcta nas Globalizações que interessam!

Museu dos Correios

Ocupo parte do meu tempo, agora que tomei a decisão de viver da escrita (risco espinhoso, note-se), a formular o projecto da criação do futuro Museu dos Correios de Cabo Verde. Esta nova ocupação, que me permite espaço para uma pesquisa académica, obriga a entrar no mundo fascinante da museologia, algo que deveria ser pensado com mais propriedade e parcimónia em Cabo Verde. Para que servem os museus? Apenas para guardar relíquias de um tempo e um templo distante ou sacralizado? O museu moderno é um pólo de conhecimento e de acontecimento. O seu grande desafio consistirá em oferecer – sem perder as suas especificidades enquanto lugar de conhecimento, de história, de simbologia cultural e artística – mensagens atraentes, proporcionar experiências estéticas, vivências formativas mas também lúdicas, cultural e socialmente ricas. Por conseguinte, o futuro Museu dos Correios de Cabo Verde comporta a história postal cabo-verdiana, desde a época colonial até ao presente. Nele, os visitantes aprenderão sobre as formas e os meios utilizados para a realização dos correios no arquipélago, com ênfase para a correspondência escrita, o telégrafo, o crédito popular, a filatelia, o telefone e as inovações institucionais. Deixo a consideração dos leitores esta afirmação de que os Correios constituem uma das instituições mais antigas, marcantes e úteis do Arquipélago de Cabo Verde

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