quarta-feira, 22 de março de 2006

As sandálias do peregrino ou recurso a Mulher nua

Ao Amadeu Oliveira, lúcido nesse Templo, que não confunde demagogia com sacerdócio...


« Femme nue, femme noire
Vétue de ta couleur qui est vie, de ta forme qui est beauté »
- Leopold Sédar Senghor


Mote

Enquanto isso, uma corja de labregos e com mandíbulas ao léu, intenta contra a ordem dos dias. De vez em quando, saio assim da cena e deambulo por aí como uma verbo à toa. Deixo-me levar pela brisa que venta, esquecida e serena, acalentando o meu momento. Passa a dita manifestação e eu, pensativo, introspectivo mesmo, não me identifico com nada disso. Apetece-me gritar aqui na crónica, recitar aos labregos os versos Mulher Nua, mas o tempo passou e o leitor, aquele mais obtuso, não iria gostar da estilística. É que morreu o filósofo português Fernando Gil e o pensamento ficou mais pobre. Ele nos ensinara que para se perceber seja o que for, é preciso olhar até à linha do horizonte e ir um pouco mais além. Um grande homem…

Nota para a malta da Campanha

Recebe a faixa presidencial o Comandante Pedro Pires. O acto tem grandeza e, sobretudo, transcendência. O Presidente, de entre os demais, é quem mais defende a estabilidade da nação, razão por que eu e a maioria dos cabo-verdianos nele apostámos. Queremo-lo, por isso, em serenidade e muita saúde, para que possa potenciar (a Cabo Verde) …es paz di Deus. Aos companheiros da jornada eleitoral, recordando-lhes Ildo Lobo em sua ausência, um grande abraço de Homem Livre…

Dos livros

Dos livros que deixo, em boas mãos vale dizer, três foram tão marcantes que lhes devoto um amor táctil e uma ternura física. «Os Lusíadas», de Luís de Camões, «Intérprete de Enfermidades», de Jhumpa Lahiri, e «Confissões de uma Máscara», de Yuko Mishima. Com o primeiro, aprendi o ritmo e a métrica, o engenho e a arte das letras intemporais. Com o segundo, tomei tento à trama com que o novelo se desenrola. E com o terceiro, sonhei que sorria deste imponderável todo. Faço votos que estes três fabulosos livros sejam, para quem os doei, verdadeiras bíblias. Basta que a leitura se alheie do profano. Em verdade, o sagrado nunca esteve nos livros, mas na sabedoria de quem os lê...

Dia Internacional da Poesia

No Dia Internacional da Poesia (e da Árvore), a par das actividades do Ministério da Cultura, quis fazer um tributo particular aos meus poetas dilectos. Dos cabo-verdianos, separei Jorge Barbosa, Ovídio Martins, João Vário e Arménio Vieira para balbuciar seus versos à boca da noite. Dos estrangeiros, transportei para um lugar à-parte Walt Withman, Jorge Luís Borges, Fernando Pessoa e João Cabral de Melo Neto. Os leitores poderão ter um naipe diferente, pois a poesia é um campo vasto e sem tempo. Hoje, por exemplo, apetece-me falar-vos de Leopold Sédar Senghor, um dos expoentes da poética mundial, cujo vate levou aos altos píncaros a negritude. E, a partir dele, extrair, em tributo à “prefaciadora implacável”, as palavras mais belas no manancial do sentimento, quais sejam:

(…) Femme nue, femme obscure
Fruit mûr à la chair ferme, sombres extases du vin noir,
bouche qui fais lyrique ma bouche (…)

As sandálias do peregrino

Chamados à sombra de uma árvore, quisemos contar uns aos outros as estórias das nossas vidas. Enquanto isso, uma corja de labregos, vociferante e besta, insiste em “quebrar” o nosso concêntrico abraço. Em comunhão, repitimos em coro as palavras de Fernando Gil: «Cada coisa, para ser o que é, tem de estar em ligação com todas as outras. A identidade ideal é uma rede de conexões infinitas. Para se perceber o mínimo sobre o mínimo seria preciso conhecer-se tudo». Kírie…meus irmãos!

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