sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Soneto sem nexo



Não direi agora um poema hermético para te falar de amor,
Quando, com a pequena gramática das horas, o não dito faz as vezes de um beijo,
Ou mesmo, assim escorreito, és de soslaio o ardil com que o tempo é lapso,
Relapso canceroso como come a carne o simples desejo na fogueira;
Nem direi aqui, com todo o nexo, o soneto dos teus seios em silício,
O ver-te descoberta, apartada da trincheira em que vais à profana guerra,
O pensar-te folha, verde folha, a de leve e de breve, quase fotossíntese,
Em senso e em sexo, o sensual de te pensar pelos véus de cada noite;
De nada vale, tal quão silenciado como seviciado, desejar a lua,
Se tu, meio nua, seminua ou inteira, cheia de vazio, és flor sem cor,
Ou, se tanto, cor sem flor, rosa-dos-ventos e odor das brisas…
Quiçá assim, em simples dizeres sem poesia, nem metáforas construídas,
O ser, no puzzle das coisas, a simples peça que se aguarda,
O desmontar esse brinquedo, esse ruído, fala dos gâmetas, trombetas quase…
Filinto Elísio

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