Mais “Claridade”
Veio e passou “Claridade na Terra da Luz”. Palestras, documentários e feira de livro, no Centro de Arte e Cultura Dragão do Mar. O evento, que exigiria muito mais público para ser brilhante, serviu para tirar algumas ilações, entre as quais:
1ª A de confirmar que a Revista “Claridade”, bem como todo o Movimento Modernista que a produz, é um facto e um feito incontornáveis na Cultura de Cabo Verde;
2ª A de fazer sentido buscar, a montante e a jusante, as matrizes e os matizes da estética e da temática, assim como as convergências e as cumplicidades, dos Claridosos;
3ª E a de testar o “silêncio dos inocentes”, pois estes, vociferantes e “indignados” com a montagem do Simpósio sobre a Claridade na Cidade da Praia, capital de Cabo Verde, aceitaram e legitimaram a sua feitura em Fortaleza, capital do Ceará.
Cientes de estarmos todos bem acordados e bem acesos, sobretudo, mais preocupados com os desafios de Cabo Verde em face da “parceria especial” com a União Europeia, da recente adesão à Organização Mundial do Comércio e do necessário “estatuto diferenciado” junto à Organização dos Estados da África Ocidental, não deixará de ser importante, se não crucial mesmo, que nos olhemos ao espelho.
Delgado
“Ti Manel”, como lhe chamo, sempre conjugando os verbos no presente, é das prosas mais aparadas, enxutas e bem conseguidas do jornalismo cabo-verdiano. Também dele a maior irreverência, não ajoelhando, nem rezando, diante de ninguém. Outra coisa, que lhe cola como sina, é a condição de polémico. Na velha e fina linha de Pedro Cardoso e Jaime Figueiredo, Manuel Delgado tem o dom de atirar pedras no charco. Apanágio de Eça de Queirós e de pouquíssimos, rol em que tem assento Delgado, a clamar o “acordar o porco” (referindo-se à pátria, naturalmente). Alguns jornais da praça, bem como seus profissionais de serviço, são seus detractores confessos. O melhor a fazerem agora é o remake dos “mimos” ao meu confrade. Alguma política – a mais medíocre da parvónia, diga-se –, se calhar incorre à injustiça de o canonizar a esta hora. “Ti Manel” é dos mais bravos da paróquia e ateia fogo ao verbo como se fosse este seu próprio corpo. À “Andaluza”, como quis Mário Sá-Carneiro, desprendido dos limites. A vida é um grande incêndio, meus amigos, e os incensos (tão pouco o bafo dos bovinos e unções da 25ª Hora) não foram aqui chamados…
Como uma Madrigal
Em nada ficou igual o amanhecer. Nem a luz dourada sob os prédios altos do Mucuripe. Nem os vendedores de água de coco anunciam os mesmos pregões. As ondas, incessantes na Praia do Meireles, têm um lambe-lambe diferente com a areia. E as nuvens, que em Fortaleza eram as mais evidentes do planeta, estão agora ambíguas, entre o cúmulo e o nimbo. Parece até que vai chover. Eu também acho que mudei um pouco. “Estou te estranhando, Poeta”, balbucio diante do espelho.
Veio e passou “Claridade na Terra da Luz”. Palestras, documentários e feira de livro, no Centro de Arte e Cultura Dragão do Mar. O evento, que exigiria muito mais público para ser brilhante, serviu para tirar algumas ilações, entre as quais:
1ª A de confirmar que a Revista “Claridade”, bem como todo o Movimento Modernista que a produz, é um facto e um feito incontornáveis na Cultura de Cabo Verde;
2ª A de fazer sentido buscar, a montante e a jusante, as matrizes e os matizes da estética e da temática, assim como as convergências e as cumplicidades, dos Claridosos;
3ª E a de testar o “silêncio dos inocentes”, pois estes, vociferantes e “indignados” com a montagem do Simpósio sobre a Claridade na Cidade da Praia, capital de Cabo Verde, aceitaram e legitimaram a sua feitura em Fortaleza, capital do Ceará.
Cientes de estarmos todos bem acordados e bem acesos, sobretudo, mais preocupados com os desafios de Cabo Verde em face da “parceria especial” com a União Europeia, da recente adesão à Organização Mundial do Comércio e do necessário “estatuto diferenciado” junto à Organização dos Estados da África Ocidental, não deixará de ser importante, se não crucial mesmo, que nos olhemos ao espelho.
Delgado
“Ti Manel”, como lhe chamo, sempre conjugando os verbos no presente, é das prosas mais aparadas, enxutas e bem conseguidas do jornalismo cabo-verdiano. Também dele a maior irreverência, não ajoelhando, nem rezando, diante de ninguém. Outra coisa, que lhe cola como sina, é a condição de polémico. Na velha e fina linha de Pedro Cardoso e Jaime Figueiredo, Manuel Delgado tem o dom de atirar pedras no charco. Apanágio de Eça de Queirós e de pouquíssimos, rol em que tem assento Delgado, a clamar o “acordar o porco” (referindo-se à pátria, naturalmente). Alguns jornais da praça, bem como seus profissionais de serviço, são seus detractores confessos. O melhor a fazerem agora é o remake dos “mimos” ao meu confrade. Alguma política – a mais medíocre da parvónia, diga-se –, se calhar incorre à injustiça de o canonizar a esta hora. “Ti Manel” é dos mais bravos da paróquia e ateia fogo ao verbo como se fosse este seu próprio corpo. À “Andaluza”, como quis Mário Sá-Carneiro, desprendido dos limites. A vida é um grande incêndio, meus amigos, e os incensos (tão pouco o bafo dos bovinos e unções da 25ª Hora) não foram aqui chamados…
Como uma Madrigal
Em nada ficou igual o amanhecer. Nem a luz dourada sob os prédios altos do Mucuripe. Nem os vendedores de água de coco anunciam os mesmos pregões. As ondas, incessantes na Praia do Meireles, têm um lambe-lambe diferente com a areia. E as nuvens, que em Fortaleza eram as mais evidentes do planeta, estão agora ambíguas, entre o cúmulo e o nimbo. Parece até que vai chover. Eu também acho que mudei um pouco. “Estou te estranhando, Poeta”, balbucio diante do espelho.
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