Eis que assim retornam. Os de horas navegadas e olhares renovados. Os de corpos entre tísico e pequeno. Os de trabalhadas vontades. Os já não tão crentes dos céus, nem penitentes da terra mais árida. Os silenciados entre o mar e a montanha. Gente sem rio, nem margem. Os que não souberam do Império, nem deles soube a República. E a história, como a Eternidade, lhes passa ali ao largo. Os que, submetidos ao regresso, cantam, com mais alma, agruras dos seus passos pelo mundo. Homenageamos sim a torna-viagem e toda a circum-navegação da Claridade. O mundo que é de vaivém e volta-volta. E de retorno. Recebo-os em festa rija, fogos e melhor vinho, admitindo, desde os tempos mais escusos, outros filhos da terra não lhes serem tão pródigos. E sei que trazem muitas metáforas, palavras encantadas, no rastro das suas caminhadas. Quando o tempo deles roubado se aninha em seu corpo, como amantes. Aliviam a noite longa tão ciosa do dia por nascer. Da luz aleivosa como leite branco, ao derramado sol precoce do estio. Os de mãos calosas e frios suores. Os que da morte vão virar a mesa – os do último momento. Os já de eterna partida, escravos de quando o vento é de feição. Baralhando sete vezes e muitos séculos estes encontros – sois aqui retirantes do Nordeste e ali emigrantes cabo-verdianos – irmãos no drama e na morte, plasmados na vida severina, como vira o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto e o poeta cabo-verdiano Arménio Vieira, de outras claridades e de outras luzes, mas que pela ventura da História continuam convergentes.
terça-feira, 27 de novembro de 2007
Claridade na Terra da Luz
Eis que assim retornam. Os de horas navegadas e olhares renovados. Os de corpos entre tísico e pequeno. Os de trabalhadas vontades. Os já não tão crentes dos céus, nem penitentes da terra mais árida. Os silenciados entre o mar e a montanha. Gente sem rio, nem margem. Os que não souberam do Império, nem deles soube a República. E a história, como a Eternidade, lhes passa ali ao largo. Os que, submetidos ao regresso, cantam, com mais alma, agruras dos seus passos pelo mundo. Homenageamos sim a torna-viagem e toda a circum-navegação da Claridade. O mundo que é de vaivém e volta-volta. E de retorno. Recebo-os em festa rija, fogos e melhor vinho, admitindo, desde os tempos mais escusos, outros filhos da terra não lhes serem tão pródigos. E sei que trazem muitas metáforas, palavras encantadas, no rastro das suas caminhadas. Quando o tempo deles roubado se aninha em seu corpo, como amantes. Aliviam a noite longa tão ciosa do dia por nascer. Da luz aleivosa como leite branco, ao derramado sol precoce do estio. Os de mãos calosas e frios suores. Os que da morte vão virar a mesa – os do último momento. Os já de eterna partida, escravos de quando o vento é de feição. Baralhando sete vezes e muitos séculos estes encontros – sois aqui retirantes do Nordeste e ali emigrantes cabo-verdianos – irmãos no drama e na morte, plasmados na vida severina, como vira o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto e o poeta cabo-verdiano Arménio Vieira, de outras claridades e de outras luzes, mas que pela ventura da História continuam convergentes.
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
Estado da Arte e Outros Torvelinhos
Estado da Arte
Nada disso. Desta feita, a média baixa tenha alguma paciência, mas é tempo de Parceria Especial com a União Europeia. Não é tempo de estio, caros amigos. Nem de fastio, que as oportunidades, bem como as portas, se abrem para nós. A dinâmica deverá apontar para a África Ocidental (excelente mercado sim), o Brasil (país emergente sim), a China (realidade extravasando sim) e os Estados Unidos (o topo da gama sim), assumindo nós, de vez, a condição de "players". Agora estamos no estado da Arte , companheiros. Inovação e criatividade. Para nos reinventarmos neste exacto momento…
Deus e a Arte
Com o meu pai, aparentemente pacato cidadão, mais para a conversa que para briga, aprendi que a Arte desafia o tempo e o lugar. Transcende as pessoas, que a determinam, e plasma a natureza e o universo. E com a minha mãe, soube sempre da esplendorosa textura das artes. Era mulher que tratava a metáfora por tu e com um amor quase táctil, não só com carinho, mas com carícia. Por isso, eu me calo diante das coisas que me ultrapassam e, sem comungar, nem proferir, alguma religião, sinto em mim que Deus, no que tem de fantástico, grandeza e profundidade, só poderá ser uma grande Obra-prima.
O torvelinho da memória
O meu avô, João Henriques de Almeida Cardoso, respeitável funcionário da Fazenda Pública e cidadão de profundas convicções, haveria de aplaudir as obras no Planalto da Praia de Santa Maria, de repente, por neologismo de trazer por casa, virado Plateau da Praia. Há um passado que deve nortear o futuro da cidade capital, que é de glorioso traçado e de bonita fachada, mas que não se compadece com o piso esburacado e desnivelado, nem com a sinalética (ou seria a toponímia?) em certo desleixo. Admirador de Abílio Macedo, antigo Presidente da Câmara Municipal da Praia, o meu avô falava ao tempo do espaço como património colectivo e o desenvolvimento da cidade com âncoras na história. Se calhar por isso, ele terá sido um dos activistas em prol da criação do Liceu Adriano Moreira, ora conhecido por Liceu Domingos Ramos. Ao tempo em que alguns "ilustres" davam pareceres contrários contra um "segundo liceu" no Arquipélago…
Romance
O meu romance sobre a cidade da Praia está quase pronto. Mas o autor não está com a síndrome da pressa, nem com sentimento de irresistível urgência. A escrita, que se quer mais "definitiva", é um mar denso e profundo, a exigir mergulho lento e total. Este é o sentimento que em mim se apodera, se calhar influenciado pela escrita de João Cabral de Melo Neto, no poema Uma Faca Só Lâmina, em que o mestre prega e constrói versos de precisão e rigor. E o fantástico que apareça quando tiver de acontecer…
Navegar é preciso
Aparentemente desconexas estas notas, ficando assim o desvio meio hermético, no meio da crónica, chamam elas a vossa atenção para o momento. Fernando Pessoa vira-o assim, noutra esfera: "Navegar é preciso"…
O torvelinho da memória
O meu avô, João Henriques de Almeida Cardoso, respeitável funcionário da Fazenda Pública e cidadão de profundas convicções, haveria de aplaudir as obras no Planalto da Praia de Santa Maria, de repente, por neologismo de trazer por casa, virado Plateau da Praia. Há um passado que deve nortear o futuro da cidade capital, que é de glorioso traçado e de bonita fachada, mas que não se compadece com o piso esburacado e desnivelado, nem com a sinalética (ou seria a toponímia?) em certo desleixo. Admirador de Abílio Macedo, antigo Presidente da Câmara Municipal da Praia, o meu avô falava ao tempo do espaço como património colectivo e o desenvolvimento da cidade com âncoras na história. Se calhar por isso, ele terá sido um dos activistas em prol da criação do Liceu Adriano Moreira, ora conhecido por Liceu Domingos Ramos. Ao tempo em que alguns "ilustres" davam pareceres contrários contra um "segundo liceu" no Arquipélago…
Romance
O meu romance sobre a cidade da Praia está quase pronto. Mas o autor não está com a síndrome da pressa, nem com sentimento de irresistível urgência. A escrita, que se quer mais "definitiva", é um mar denso e profundo, a exigir mergulho lento e total. Este é o sentimento que em mim se apodera, se calhar influenciado pela escrita de João Cabral de Melo Neto, no poema Uma Faca Só Lâmina, em que o mestre prega e constrói versos de precisão e rigor. E o fantástico que apareça quando tiver de acontecer…
Navegar é preciso
Aparentemente desconexas estas notas, ficando assim o desvio meio hermético, no meio da crónica, chamam elas a vossa atenção para o momento. Fernando Pessoa vira-o assim, noutra esfera: "Navegar é preciso"…
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Caverna
O que dizer das criaturas, miniaturas
No breu das grutas, que sintaxe, algo
Como um labirinto de versos, paralaxe,
Extracto de escuridão ou de solidão?
Estar apartado da vida, asceta, monge,
Sequestrado de si próprio, em dúvida
Na prece, sendo caverna este silêncio
E seu bulício, esfinge e o que ele finge?
Uma parelha de poesia, duas cotovias,
Três árvores ao redor e quatro tambores,
Essa leiras, medidas e mesuras, números…
Momentos tão de quedas e de vertigens,
Flutuantes almas, quantos impregnados,
Lugares de luz, de escuro e seu inverso…
Filinto Elísio
No breu das grutas, que sintaxe, algo
Como um labirinto de versos, paralaxe,
Extracto de escuridão ou de solidão?
Estar apartado da vida, asceta, monge,
Sequestrado de si próprio, em dúvida
Na prece, sendo caverna este silêncio
E seu bulício, esfinge e o que ele finge?
Uma parelha de poesia, duas cotovias,
Três árvores ao redor e quatro tambores,
Essa leiras, medidas e mesuras, números…
Momentos tão de quedas e de vertigens,
Flutuantes almas, quantos impregnados,
Lugares de luz, de escuro e seu inverso…
Filinto Elísio
Poesis
Vindo de Lisboa
Mas a caminho de Fortaleza, faço contas ao meu rosário. Há coisas para sorrir, amores da jornada e lutas por fazer. Lido-me mal com o jogo perverso daqueles que atiram pedras e escondem a mão. Ou montam grosseiras cabalas, à beira de um sub mundo. Para além disso, sou apenas um homem que ama e escreve poesia. O melhor do dia é o aniversário de António Leão Correia e Silva. Os tempos, para lá das máscaras e das suas zonas de sombra, são de festa, sim senhor. Muitas e boas para o meu mano Tó…
Edith Piaff
Assisti, pelo DVD, ao filme "Piaf – Um hino ao amor" (La Môme). O filme aborda a vida da grande cantora francesa, da aurora ao crepúsculo, com intensidade dramática e excelente interpretação. Vale a pena ser visto. Terá faltado alguma paralaxe existencial, na minha modesta opinião. Mas isso seria tarefa para um Truffaut, se ainda estivesse vivo…
Alguma poesia
Acampei no país da tua ternura com uma bússola desvairada nas mãos. / Caíram as pétalas da rosa-dos-ventos e os rumos estão cegos. / Que delírios ou que fomes amordaçam fúrias para além das montanhas? / Que tesouros ou que náufragos marcaram hora com o inevitável para além das vagas? / Qual a coragem da esperança diante do sim e diante do não? (José Costa Matos)
E mais música, maestro
O CD Badyo, de Mário Lúcio Sousa, prestes a vir ao convívio do público, é uma obra que merece atenção e aplauso. Atenção, porque, aparentemente simples, a composição, interpretação, arranjo e produção trilham caminhos complexos. E aplauso, porque, uma vez mais, o amigo Tchilo, nos prestigia com um trabalho bem conseguido e eivado de bom gosto. Na linha dos melhores, Badyo desnuda-se completamente e, sem perder identidade, assume a universalidade. É Mário Lúcio Sousa no seu momento mais “ecológico”…
Mas a caminho de Fortaleza, faço contas ao meu rosário. Há coisas para sorrir, amores da jornada e lutas por fazer. Lido-me mal com o jogo perverso daqueles que atiram pedras e escondem a mão. Ou montam grosseiras cabalas, à beira de um sub mundo. Para além disso, sou apenas um homem que ama e escreve poesia. O melhor do dia é o aniversário de António Leão Correia e Silva. Os tempos, para lá das máscaras e das suas zonas de sombra, são de festa, sim senhor. Muitas e boas para o meu mano Tó…
Edith Piaff
Assisti, pelo DVD, ao filme "Piaf – Um hino ao amor" (La Môme). O filme aborda a vida da grande cantora francesa, da aurora ao crepúsculo, com intensidade dramática e excelente interpretação. Vale a pena ser visto. Terá faltado alguma paralaxe existencial, na minha modesta opinião. Mas isso seria tarefa para um Truffaut, se ainda estivesse vivo…
Alguma poesia
Acampei no país da tua ternura com uma bússola desvairada nas mãos. / Caíram as pétalas da rosa-dos-ventos e os rumos estão cegos. / Que delírios ou que fomes amordaçam fúrias para além das montanhas? / Que tesouros ou que náufragos marcaram hora com o inevitável para além das vagas? / Qual a coragem da esperança diante do sim e diante do não? (José Costa Matos)
E mais música, maestro
O CD Badyo, de Mário Lúcio Sousa, prestes a vir ao convívio do público, é uma obra que merece atenção e aplauso. Atenção, porque, aparentemente simples, a composição, interpretação, arranjo e produção trilham caminhos complexos. E aplauso, porque, uma vez mais, o amigo Tchilo, nos prestigia com um trabalho bem conseguido e eivado de bom gosto. Na linha dos melhores, Badyo desnuda-se completamente e, sem perder identidade, assume a universalidade. É Mário Lúcio Sousa no seu momento mais “ecológico”…
sábado, 3 de novembro de 2007
Banquete
Das algas, ágeis e frescas, nas águas
Como aos girinos dos charcos, o Poeta
Terá mão pouca, tal qual alma grande,
Para destilar seu poema e sua tristeza...
Sejam fonema, teorema, até versos,
Sejam, ora perspectivas, ora reversos,
Tenham cara de nuvem ou de cinema,
Esquema de viagem, metáfora distante...
Em segredo, se o há em tudo, poesia,
Melodia inaudível, halo, esfínge e luz,
Tudo o que finge e reluz em querubim...
Absinto, gruta e grota, algo das algas,
Fruta e greta, Banquete, de Platão,
Gotas de mim, hidras de sangue...
Filinto Elísio
Como aos girinos dos charcos, o Poeta
Terá mão pouca, tal qual alma grande,
Para destilar seu poema e sua tristeza...
Sejam fonema, teorema, até versos,
Sejam, ora perspectivas, ora reversos,
Tenham cara de nuvem ou de cinema,
Esquema de viagem, metáfora distante...
Em segredo, se o há em tudo, poesia,
Melodia inaudível, halo, esfínge e luz,
Tudo o que finge e reluz em querubim...
Absinto, gruta e grota, algo das algas,
Fruta e greta, Banquete, de Platão,
Gotas de mim, hidras de sangue...
Filinto Elísio
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