terça-feira, 29 de agosto de 2006

Thugs, CEDEAO, Constituição e Israel + nota do colunista


A caça aos Thugs

A manchete da prisão dos jovens delinquentes, mais conhecidos por Thugs, nos deixa mais aliviados e mais crentes da nossa segurança pública. Tal como a saúde pública, a segurança pública é questão premente e prioritária. Sem elas, não há estabilidade, nem paz social, as verdadeiras razões que trariam investimentos a Cabo Verde, diga-se em abono da verdade. Ninguém sai da Inglaterra para vir a Cabo Verde, a risco do paludismo, da cólera ou do assalto. Tao pouco ele viria para assistir gente a defecar na via pública ou a curtir os apagões da Electra. Pura e simplesmente não haverá turismo, nem outro investimento sério, se alguma incongruência não for consertada a tempo e, quanto a isso, não devemos ter papas na língua. Mas dizia, a caça aos Thugs veio em boa hora e é mister que o nosso sistema judicial seja consequente com a lei e o interesse nacional. Só que o buraco é mais em baixo. A criminalidade transcende a medidas securitárias, por sinal mais que necessárias. Ela tem a ver com as alternativas sociais para a juventude. A segurança sustentável não é policial, mas societal. Até porque os jovens delinquentes são “nossos jovens” e precisam ser recuperados. Não apenas por aquele que viria da Inglaterra, mas por nós que continuamos…em Cabo Verde!


Cabo Verde e a CEDEAO

Apoio a 100% a ideia da revisão das nossas relações com a CEDEAO. Elas deveriam, hoje mais do que nunca, incrementar uma vertente mais bilateral do que multilateral, no quadro comunitário. Esta tese foi defendida pelo diplomata Manuel Amante da Rosa, mas, para variar, não teve respaldo crítico entre os seus pares da diplomacia. Cabo Verde deverá reflectir e assumir qual o cenário da CEDEAO que lhe interessa realmente. Em verdade, o enquadramento de Cabo Verde no mundo não se faria de costas voltadas para a África Continental. O Arquipélago é estratégico, porque está estrategicamente posicionado (não apenas em termos geográficos) na África Ocidental. Em verdade, é estratégico com África e nunca sem ela. Mas não se tem o Continente a qualquer custo. A questão da livre circulação das pessoas e bens merece revisão séria e rápida. Concordo com a preocupação do ministro Júlio Correia sobre a ameaça demográfica, decorrente de uma migração intensiva e nem sempre controlada. O país tem de dizer a CEDEAO quanto recebe e como recebe. Como pequeno estado insular (relativamente estável), próximo de uma Costa instável, empobrecida e sobrepovoada, as ameaças a um rápido e perigoso desequilíbrio demográfico são evidentes. Com as delicadezas necessárias e a complexidade que a questão determina, é hora de fazer o que tem de ser feito…

A questão presidencial

Releio, com vagar e sentido crítico, o livro “A questão presidencial em Cabo Verde – uma questão de regime”, de David Hopffer Almada, e penso se não seria interessante reabrirmos o debate sobre o tipo de regime mais adequado para Cabo Verde. Debate de rua, societal mesmo, quase em referendo. O dito Parlamentarismo Mitigado, um hiato que às vezes mete água, é a melhor solução política? Quais as virtualidades de outras propostas? O retoque constitucional pontual seria por si só suficiente para qualificar o actual regime? Ou, quem sabe, a virtude está numa mudança mais de fundo, no presidencialismo ou no semi-presidencialismo? O actual regime permitiria, sem perversões, a coabitação entre um governo e um presidente adversos? Até que ponto, no actual figurino, certas coabitações não fragilizariam a soberania, a democracia e o desenvolvimento, valores ainda em consolidação nesta etapa histórica da vida nacional? Dá que pensar o facto de o Presidente da República, saído directamente do voto popular, não ser titular de importantes poderes próprios e de que maneira esta “fragilidade” contribui para um equilíbrio saudável entre todos os Órgãos Políticos de Soberania. O povo cabo-verdiano realmente quer um Governo que não responda primordialmente perante o Presidente da República que escolheu? Enfim, uma série de questões que merecem ser tematizados para lá do país político e do país jurídico. Sem arrogâncias, nem tecnicismos juridico-constitucionais, quem atiraria a primeira pedra?

Israel e a mentira orwelliana

Leio a imprensa local e há acontecimentos que não acontecem. Parece a mentira orwelliana que, repetida ene vezes, vira verdade. Os aviões que lançam misseis sobre as crianças indefesas são pura brincadeira. Uma ficção, tirada do monitor de um video game, crê-se. Em Cabo Verde, os deuses-de-esquina ficam quedos e mudos. Mas eles também não interessam. São zeríssimos à esquerda. O silêncio dos silenciados não nos aparta da vergonha. O ataque, desproporcional e injustificado, ao Líbano é uma vergonha para a Humanidade e os homens de bem e de boa vontade condenam tamanho genocídio. As Nações Unidas, uma vez mais, não podem nada, mesmo nada, contra a força bruta. O governo de Israel (não confundir com o povo judeu) é déspota, fascista e desumano, para não dizer bem aprendido com o nazismo. O que acontence ao povo palestiniano e libanês não passa de um holocausto. Um nojo, com todas as letras…

Nota do Colunista:

O cronista não está alheio à fruição social. Muitos dos temas que aborda foram escrutinados no quotidiano. Os assuntos colectivos são inesgotáveis. Não pretende ele ser dono, nem accionista de alguma verdade. Ao levantar questões, ele quer contribuir para a reflexão da nossa opinião pública. De vez em quando, ele migra para o seu espaço poético, como o Albatroz, de Baudelaire. Aí, a sua função torna-se mais existencial que social. Os leitores hão de perceber a alteridade. Quando não (direito que os assiste), reclamem pelo endereço electrónico: filintos@gmail.com.

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