(Aos 40, as frutas souberam-me outras, aveludadas na mão,
sucolentas na boca, polpudas de ver, caídas nas cores serenas
e tresandadas nos desejos que me latejam ainda nos poros)
sucolentas na boca, polpudas de ver, caídas nas cores serenas
e tresandadas nos desejos que me latejam ainda nos poros)
Tão outras como eram aqui aos 20, as frutas
Mordidas em toda a água, sal e carne, vicejavam,
De cesta à boca e de boca ao âmago, lembranças
Que foram em mim o visco e o cisco palpitantes…
Aprendi nelas, nos idos anos, que as palavras,
Em alto estado de sêmea ou fêmea, já dizem
A semente curvilínea das dunas e o ardor semântico
De quem se aninha ao lado e sabe à rosea das uvas…
E, atento aos perfumes, tácteis e visíveis, ouço,
No mais fundo do tempo, das cerejas o fresco gosto
Com que nos laranjais a minha fome incendiava…
Fendas abertas à mão, manchas tatuadas, veias
Corridas em quentes seivas e que, versos desaguantes,
Deixavam – não as marcas, mas a sede que fui aos 20…
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