À guisa de Zero
Os meus encontros com Dimas Macedo, poeta e Procurador do Estado, são caudalosos almoços. Fazemo-los em dias de tarde livre, pois há troca de livros, ideias e novidades. Recitamos os bons poemas que atravessam lugares e tempos. Hoje – diante do bom peixe na brasa, com arroz de brócolis e acondicionado a suco de cajá - falou-se das grandes famílias do Ceará. Das relações políticas, dos casamentos de conveniência e do coronelismo mutante. As políticas públicas, cá e lá, também assistiram à nossa sobremesa (o obrigatório doce de mangaba). E marcamos assistir juntos (num clube com telão de plasma, claro) o Brasil x Croácia. Bem, isso era para abrir a crónica…à guisa de Zero, como diria o saudoso Pranchinha.
A terra dos nossos avós
Não será com Micheal Porter, nem com gurús afins que estas ilhas avançam. A questão é cultural. Temos de saber identificar na nossa cultura os factores do desenvolvimento. Essa coisa de importar tudo acriticamente - de suco de fruta a gestores aeronáuticos, passando por jogos de azar -, não trará soluções sustentáveis. Importam mudanças de fundo e não a obsessão de colocar o arquipélago no “ponto-de-venda”. Sem triunfalismos, mas com estratégias. Vamos, sim, construir “a terra dos nossos avós”…
Na moda e a Electra
Cabo Verde está na moda, mas às escuras. Os apagões da Electra são o grande embaraço, numa altura em que se quer convencer a todos que já estamos PDM. Abuso, deboche ou inspiração rasteira? Espera-se, sinceramente, que o bréu já esteja a mexer com a paciência daqueles que dão as cartas, pois os cidadãos de há muito que querem ver essa fraude de malas aviadas. Na moda, dizia, mas está muito difícil. A Electra jogou todas as suas fichas e perdeu-as. Ou será que tem outros trunfos? Na manga, acredita-se…
Nato, patronato e o Pop xô di bola
O que destrinça Cabo Verde dos demais é o orgulho do cabo-verdiano. Estando na roça de São Tomé e Princípe, na fábrica em Boston e na construção em Lisboa. Patronato, mas devagar. Nato, idem. Sem perder o decoro. Há dias, já ía acontecendo com um karkamano a guiar na contra-mão em plena Praça Nova. E não é que o homem esperneou e fez break-dance quando a polícia o quis multar! O natinho malcriado esteve para levar umas bolachas da Pop no Mindelo. Gostei. Xô di bola! Pobre, mas não miserável. Não estamos na Copa 2005, mas Cabo Verde tem futuro, sim senhor…
“Intelectual orgânico” em tempos de Copa 2006
O meu amigo Casimiro de Pina continua (elegante e fino-da-bossa) com aquilo de “intelectual orgânico”, palavrão anacrónico desde que a pequena-burguesia “subsidiou-se” nos anos noventa ao invés de “suicidar-se”, como era vaticínio revolucionário. O jargão de “intelectual orgânico” já não move catedrais, nem arrasta multidões. Isso era ao tempo em que o pessoal ía aos comícios sem bandeirolas, nem camisolas, quanto mais feijoadas. Hoje, é a Copa 2006. Outros tempos…orgânicos!