quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Pinóquio ou Ronda nº 2

Contextualizando

(Uma hora depois de rodarmos os bares da cidade da Praia em busca da paz de espírito: Motcha, fechado; Pirilampo: fechado; Petu Pomba, fechado; chegamos ao Paulino, no Palmarejo. Acesa discussão. A escravatura foi abolida há 169 anos. Alguns dos nossos bisavós foram escravos. Mas até esta não discutimos a fundo a questão. Temos falado do Holocausto, outra tragédia, mas acontecida há menos tempo. As luzes na avenida prenunciam o Natal. Fala-se da escrita. O poeta é um fingidor, glosou alguém Fernando Pessoa. Eu queria tanto contar aos meus filhos a história do Pinóquio. Festival marginalizado, dizes no teu Blog)

Zero

Amiga, a grande verdade é que o mundo começou sem o homem e há de terminar sem ele. O ciclo completo não é necessariamente antropológico. Leio o teu Blog e gosto das tuas razões. Um dia, hás de entender que o mundo é um grande paradoxo às voltas. Vale termos os Raiz di Polon, Amiga. Gostei daquela: Está tudo a ver um Benfica – Manchester, um Porto – Artimedia. Ou então, a encher avenidas em passeatas...

Boa nova…lufada de ar fresco

Soube, há dias, pelo meu pai que Arménio Vieira lança em breve um livro de poemas. Nessa mesma tarde, encontro o Poeta por acaso e este confirma-me ter na calha o documento. Venha o livro, agora ou nunca. Quero ler boa poesia e não a versalhada que pulula por cá. Aguardo, com expectativa, o livro de poemas do Conde de Silvenius, um veneno contra a monotonia…e a mediocridade!

Natal a ser…

Aproxima-se o Natal e ficamos entre tristes e contentes. As luzes e as cores trepidantes trazem-nos algo como uma nostalgia e, mesmo calados cá dentro, a nossa alma chora de alguma perda. Viver é perder. Perder-se, para ser mais próprio. E no Natal, na azáfama natalícia, que nos sentimos mais sós no mundo. Ou a sós com ele, como tu predizias quando era luar o que nos encantava à beira das horas…

Cinematografia nacional

Parece ter chegado a hora de abordarmos o cinema e o audiovisual em Cabo Verde. A questão de fundo não é este ou aquele festival de cinema. Não coloquemos o carro diante dos bois. Está fora de questão adiarmos o debate. Importa, a bem da nossa cultura e identidade, uma cinematografia nacional. Para já, temos de criar as infra-estruturas institucionais que possam, via cooperação internacional e outros canais, fomentar a Sétima Arte. O cinema criou um manancial de obras-primas em pouco mais de um século. Tornou-se a mais popular e mágica linguagem antes da multimédia e fixou imagens transcendentais na retina da humanidade. Só que não se faz cinema com o aparato e os significantes. É preciso tocar no ponto certo. O Ministério da Cultura não poderá aderir ao cinema apenas por uma questão de marketing. Ele tem de se reestruturar organicamente para que o cabo-verdiano veja e produza cinema. A cadeia tem de ser montada. Aqui e agora…

Cinema Paradiso e o festival

Acontece o Festival de Cinema. Sem público, o que não é dramático em qualquer mostra de qualidade. A qualidade é hermética, me perdoem os populistas e demagogos. O meu amigo sente-se nervoso, perdido e sem estribeiras. Começa-se a procurar culpados. Típico de pessoas que não possuem referencial e tentam justificar a sua mediocridade diante da crise. Raramente a qualidade é pão que agrada todas as bocas. Mas, dizia, o festival acontece com alguns gatos-pingados e os burocratas ficam descontentes. Queriam ter público, imprensa, secretário de estado, ministro, fogo de artifício, gala, Hollywood, a ver se era daquela que o comboio entrava nos trilhos. Mas ainda é prematuro…

A propósito do cabaret no Ilhéu dos Pássaros

Ocupação do Ilhéu de Santa Maria? Eu também tenho as minhas reticências. Não que eu seja contra o investimento do magnata David Chow. Cabo Verde precisa é de mais e mais investimentos. Mas quando as coisas são de fundo, elas merecem ser socializadas com os cidadãos. Queremos saber a natureza de tal investimento no Ilhéu de Santa Maria, escrutinar criticamente os prós e os contras. Afinal trata-se de um formidável património histórico, paisagístico e ecológico. Por isso, as intervenções estruturais demandam, no mínimo, algum consenso da cidadania. O crescimento económico é bem-vindo, mas não o queremos a qualquer custo…

Sim, falávamos de Pinóquio

O escritor é uma espécie de Pinóquio. De tudo o que escreve, cresce-lhe este nariz. E os leitores já sabem nada é verdade. Nem mesmo a verdade. Escrever, dizia Pessoa, é fingir tão completamente a dor deveras. Bem criança, entre os meus seis e sete anos, eu ouvia contar a história do Pinóquio e ficava numa pilha de meditações existenciais. Era uma história, não se sabe se de rir, se de chorar. Como era bom ser Pinóquio e equilibrar sobre os ombros de outros bonecos. A vida é um show de marionetas…

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