segunda-feira, 10 de janeiro de 2005

As Tábuas de Madeira

por José António Gonçalves


Dêem-me as tábuas,
Essas tábuas de madeira firme
Com que se constróem os barcos.


Dêem-me as tábuas rijas do tempo,
As tábuas livres e cantantes de madeira
Com que se erguem os muros fortes
das cidades inexpugnáveis.
Deixem-me juntá-las às folhagens
Do despojamento da sua condição de árvores.


Com elas, prometo,
Irei vigorosamente alicerçar,
No entrelaçar das tempestades
Que se lêem nos intervalos das nuvens invernais,
As jangadas calmas
Que respondem nas manhãs de nevoeiro
Pelo simples nome de casas.


Depois, se verdadeiramente me apetecer,
Decoro-as com dois pares de asas
e deixo-as voar.


A promessa permanece no poema.
Deixemos as casas, na sua condição de jangadas,
Cumprir com a sua missão de navegar.


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