quinta-feira, 15 de maio de 2008

Por ora

O meu velho faz anos
Tenho com o meu pai uma estranha relação de amizade e cumplicidade. Deixámos cair, há muito, o Muro de Berlim da idade. Falamos da arte, da ciência e da filosofia. Da cidade da Praia, que é onde gostamos e escolhemos viver. De Cabo Verde, que é nossa causa comum. Apesar de ser avô dos meus filhos, tenho por ele essa entrega de melhor amigo. A eternidade? Já não temos idade para nela pensamos. E o velho faz 79 anos, bem contados. É apenas e tão só uma nota pessoal, se me é permitido amar alguém…
Nossos jovens/adolescentes
Ainda há dias, eram frágeis criaturas e o tempo passou num ai. Hoje, saídas da moldura da infância, já não querem comer as refeições à mesa e passam boa parte das horas no telemóvel. Nem ficam felizes com os grandes almoços de família. Tão pouco somos os heróis do pessoal, já que nem somos tão digitais assim. Distanciaram-se daqueles que não sabem a criptografia do MSN e perderam o compasso do hip-hop. Começaram a namorar e não dão tréguas aos que amaram a seu tempo. São egoístas e parecem querer partir a cada amuo. Angustiam um bocado, mas gostamos deles. Continuam a ser a melhor parte de nós. São os nossos jovens/adolescentes
O Bicho
Na semana passada, escrevi sobre a escassez do arroz. A situação é gravosa e desumana. Está aí um problema sério (e cada vez mais real) dos Direitos Humanos. Conduzindo do Palmarejo para o Plateau, vi a cena chocante. Não era esse poema de Manuel Bandeira, referenciado há dias numa crónica de Airton Monte. Era um homem no contentor do lixo. Absolutamente, um homem. E, já agora, tomem lá os versos de Manuel Bandeira: Vi ontem um bicho/ na imundície do pátio/ catando comida entre os detritos/ o bicho não era um cão/ não era um gato/ não era um rato/ o bicho, meu Deus, era um homem.
Nobreza de ser
Acompanho, com interesse, a campanha autárquica. É importante que Cabo Verde saia sempre a ganhar, sublimando as eventuais crispações e os evidentes exageros. O pessoal precisa de alguma contenção verbal. Dizer tudo com modos. Ir mais no modo que na moda. Será a maledicência, tão vil quão habitual ultimamente, a única forma de fazer política? Em verdade, a política é ciência nobre e não esse território da canalha. Os cidadãos querem civismo e elegância como direito. A democracia não é o "laissez-faire" da maioria e da minoria, mas o ditame da cidadania. Talvez pareçam estas palavras exageradas para algum "deus das esquinas". É que importa exagerar na nobreza de ser…
Superfícies
Criativa e de bom gosto a exposição "Superfícies", de Omar Camilo, no Centro Cultural Português. Igualmente, interessante a exposição fotográfica do inquieto Baluca Brazão, no Centro Cultural Francês. Estas e outras iniciativas levantam um grande questionamento: não chegou a hora de uma grande galeria de arte na Cidade da Praia? Nem precisam responder. A hora é agora!

1 comentário:

Maggy Fragoso disse...

Oi Filas,

Mais uma vez, não foi possível vermo-nos em Lisboa.
Um abraço de parabéns ao teu pai.

Looking forward to see you again pretty soon!

Beijos,
Maggy