Mote
Creio ter sido Fernando Pessoa, o grande, melhor dito, o profundo, a escrever que “Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma”. Ó, leitor, a minha mãe faz anos e eu agradeço a Deus pela mãe que tenho. Queria, em súplica pública, que ela soubesse (para a eternidade) que sou o eterno devedor. Fosse eu o autor do soneto de Januário Leite, estaria um pouco mais tranquilo. Tivesse eu pintado “Pietà”, loiça do tipo, seria outra loisa. Mas nada de frustrações, pois cada um dá o que pode e a mais não é obrigado. E a minha mãe sabe que há um oásis no recôndito da minha alma…
Saravá, shallon e olá como vamos
Acompanhei, primeiro, com hilariante leitura, e, depois, com alguma preocupação, o semitismo e o anti-semitismo dos articulistas Florenço Varela e José Tomaz Veiga. A questão judaica, que é séria e importante, merecia ser discutida com outra serenidade e nunca no calor de eleições, por uns, ganhas, e, por outros, perdidas. Não há inferioridade, nem superioridade, pela origem judaica. Seria falacioso querer que houvesse. Falacioso e irritante, já agora. Oportuno seria debater a cidadania cabo-verdiana e a origem antropológica do cabo-verdiano. O código genético é importante. Mas não é no inato apenas, mas sobretudo no adquirido, que reside a virtude. Pelas quatro costelas, descobri numa delas a minha origem judaica. As minhas origens cristãs-novas, como diria Manuel Delgado, o mais acutilante jornalista cabo-verdiano. Mas pelas minhas contas, entram na minha composição genética os fulas, os mandingas, os indianos e os portugueses. Algo me diz que somos fortes e “ricos” por esta mestiçagem. O mundo que o cabo-verdiano criou, com perdão a Gilberto Freyre, tem origem em muitos outros povos e em mais diversas culturas. E temos de estar orgulhosos destas origens (de todas as origens, note-se). Sem xenofobias, nem afirmações…bestas!
Caia na gandaia
Ó, leitor, basta de política. De contar e recontar votos. Isaura Gomes, quando acerta, pede basta à psicose da fraude. Vamos cair na gandaia, pois a ala dos malucos (e dos artistas) já sai pelas ruas. Estamos no Carnaval. Além de grande evento cultural e grande negócio turístico, o Entrudo tornou-se numa profunda terapia psicossocial. Carregados que estamos todos de duas eleições, com a sua boa dose de guerra de nervos, o Carnaval vem em boa hora. Há que desanuviar, festejar, rir, soltar a franga. Uma festa estival, tomada de máscara e folia, na qual o fugaz sobrepõe ao eterno. “O Carnaval está aí, vamos vadiar…para a polícia não pegar!”. Sobretudo, o nosso auto policiamento que, vezes sem conta, nos leva à patrulha e ao fascismo existencial. Ame-se quem puder…
Griposa preocupante
Enquanto a gripe aviaria se globaliza e, como um cancro, ela se aproxima, os homens perdem o tino e o siso em guerras fratricidas. Parece que vivemos tempos difíceis em termos de uma consciência colectiva em prol da paz. Os recursos gastos para a destruição são de longe mais avultados do que aqueles dispendidos para pesquisas e aplicações médicas. Sofisticam-se mais as prisões do que as escolas. Armam-se exércitos e desarmam-se hospitais. Um pouco por todo o mundo. Apetece-se sair à rua, de cartaz em punho, e manifestar-me contra este grande absurdo. Estaria sozinho? Naturalmente, num país onde as pessoas não conseguem fazer entrar nos eixos a Electra, é normal que ninguém se manifeste contra o aquecimento global. Eu vi a frieza com que a comunicação social tratou o facto do Presidente Pedro Pires ter restituído ao mar uma tartaruga cabeçuda. Frieza tão franciscana quão ignorante. Pois, estaria sozinho, pedreiro livre que sou, sem lenço nem documento, ciente da minha cidadania. Aliás, prefiro uma boa solidão a uma má companhia. Por isso – montanha! -, queria estar bem lá no alto…
A NATO por estes dias
Defendemos que Cabo Verde terá de ser um país útil para a comunidade internacional. E utilíssimo na promoção da paz e da estabilidade, sobretudo regional, diga-se. Destrinçando sempre a geopolítica da paz da geopolítica da hegemonia e do terror (sob qualquer forma e conteúdo), há que ponderar, entretanto, o papel do nosso país na presente conjuntura internacional. Os exercícios militares da NATO devem ser assim analisados pela opinião pública. Não os detalhes militares em si, mas os contornos políticos e diplomáticos da sua autorização e da sua concessão. Os cabo-verdianos querem saber em que condições eles se realizam e quais as suas vantagens (e as desvantagens). A que lucro (e a que custo) temos a NATO por estes dias. Será pedir demais? Nada disso. Uma exigência democrática tão somente…
Nota: Discorde, fale mal, fale bem, concorde, esperneie. O leitor pode sim opinar sobre as minhas crónicas. Recebo críticas pelo email: filinto1992@yahoo.com.
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