domingo, 10 de outubro de 2010

Exercícios para a fragmentação de uma praça

Tenho por mim que se anda a estragar a praça. A nossa praça que, ao tempo, fazia de ágora, porque, em parelha, a cidade poderia ser polis. Com cidadania e tudo. Arménio Vieira, uma espécie de selo poético nesse entremeio, vaticinara-lhe um poema promonitório – falou até em bomba termonuclear! - e não é que lhe desmontam a esplanada, aí mesmo à beira do correto. Com a bomba do decreto. O pessoal não sabe que temos uma praça temática, relíquia urbanística, pensada para recriar uma cidade. Quadrangular, tendo por eixos a rua do ouro e/ou da banca, a rua da câmara e do povo, a rua da fé e da justiça, e a rua dos sobrados, ela própria lúdica sendo um baralho de cartas: valete, ouro, paus e espadas. Ao centro, o chafariz e a gurita, pela música clamando os cidadãos e pelas água renovando o convívio. Por um triz, éramos civilizados. Passávamos pelo processo civilizatório. Tempo andado, chega cá para isto um que diz: vamos alfaltar o miolo da praça e, por desgraça, desenha-lhe motivos de pano de terra e, como tudo acaba em vernáculo e em exótico, houve até palmas. Adiante, bobinando o tempo, o pessoal da festarola ergue-lhe outro um urinol que é um mastadonte, destoando a estética inicial dos que realmente pensavam a cidade. Demais faz mal e subentendam vocês aqui um grande palavrão mais sublime, de longe mais sublime, que o hino nacional. Agora sim, apetece tirar para fora o coiso e urinar nos cravos. Não deve ser proibido. Pode-se até defecar. Vomitar. Vomite-se quem puder, caramba. Neste besteirol de advogados, se a constituição for omissa, estaremos no reino do permitido…

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