Crónica recortada
Desta feita, faço recortes. Não por falta de assunto. Mas por excessivo assunto. Saio à rua e tudo muda de figura: cartazes, bandeiras, músicas, farpas e fanfarras. Está-se em tempo eleitoral e eu, como a maioria dos cabo-verdianos, vou votar no próximo domingo. E, quem sabe, apesar da sandice de certos discursos, estejamos novamente a fazer história. Manifestamente há civismo nestas eleições. Tirando um ou outro caso, a lembrar que “quem não suja à entrada, fá-lo à saída”, tudo corre como manda o figurino mais civilizado. Às tantas, percebe-se que a democracia é um excelente processo civilizatório. Isto é, aos poucos, vamos perdendo a barbárie que nos torna exacerbados uns com os outros.
O Pranchinha revisitado
Daria tudo para reavivar o Pranchinha. Este também daria o céu para assistir a tudo isto. Obviamente com o seu humor consequente de quem destrinça o trigo do joio. Por mais isento que o gajo se assumisse, fazendo jus à sua mania de juiz, nestas eleições a neutralidade parece impossível. De resto, não se pode ficar neutro, nem indiferente perante Cabo Verde. E Pranchinha teria de entrar na dança, seguir a procissão e subir ao palanque (ó política a quanto obrigas!). Frequentar a conversa de café. Curtir a demagogia dos assessores lusitos, compará-los aos tupiniquins de outrora, e lamentar a marginalização das competências locais (mesmo quando não mercenárias), enfim…o que o Pranchinha tem perdido nestes dias!
Conversa de café
Devíamos ter ido lá todos, amigos e conhecidos, nunca inimigos, diga-se, ouvir o que o homem tem de novo para dizer. Saber se há novidade, pois das velhas coisas (não por serem antigas, mas por serem ultrapassadas) já não há vencimento. Esperarmos que o discurso não traga desgraças, nem que os gestos sejam de briga. Já ninguém quer ir para a Pasargada, de modo que terá de ser aqui, na Tapadinha. Caso para dizer que estamos condenados ao entendimento. Obrigados ao destino comum, por Cabo Verde. Por isso, e porque há valores que transcendem a política, a tolerância e o diálogo devem falar mais alto. Devíamos, pois, ir à conversa de café. Para expressar as nossas “posições espontâneas”. Ou quanto mais não seja pelo café. Que nunca defraudou ninguém…
Xatiadu ku flipadu
O comício ia forte e feio, cheio de desgraça e de má-língua, vaticinando para Cabo Verde tsuname, tremor de terra, erupção vulcânica e praga de mil pés. O comício do pessoal xatiadu ku flipadu, pronto para tomar a terra de assalto e para ver se era daquela que a malta comprava gato por lebre. De repente, surge o jornalista no meio do apupo dos imbecis, uns mais fanáticos do que outros a mandar vir farpas contra o gajo. “Li o teu artigo no on-line”, diz um cão-de-fila, pronto para saltar na presa. O seu comparsa põe o dedo em riste e ameaça o jornalista. Gente que confunde estado de direito com da direita. Onde será que vimos isso? Alguém se lembra das ameaças pidescas? Em tempos do Estado Novo, seria? É pá…uma corja de fascistas!
Aquariano pós eleitoral
A 24 de Janeiro, este aquariano fará anos. São muitos e não os vou dizer ao leitor. Só direi que continuo engajado às coisas da arte e não às circunstâncias da política. O tempo eleitoral está sendo uma excepção, uma espécie de intervalo para dar o meu contributo modesto. Como cidadão não ficaria bem com a minha consciência, se visse este momento a partir do cais de ver passar o barco. No dia 13 de Fevereiro, faça sol ou chuva, venha nuvem ou Juno, voltarei aos meus poemas e às minhas pesquisas. Como diz alguém que me é próximo, “é tempo académico, mano”. Et pour cause, a partir dessa data, regressarei ao meu âmago. Aquariano tem cada uma…
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