Ficámos na primeira fila para o documentário "José e Pilar". Ele era o Nobel e ela o pilar. A Pilar del Rio. Ambos em tela, música magistral, a morte simplificando em seu lento mas certeiro relógio o que se pontifica vida. Depois saímos de mãos dadas para uma pizzaria do meio do caminho e pudemos estar à luz de uma vela vermelha. Estranha sensação - a mesma sentida em Paris, no Les Deux Magotts, sabe-se lá pelas razões que a Razão não explica. Lindo documentário, dizia-te.
O filme, a um tempo, conota à ficção e denota ao factual. As biografias têm essa ambivalência de subverter o que aparenta. Uma ilha de Lanzarote, ventosa e lunar, com o enorme vulcão para subir e a vida em alteridade com a morte. Miguel Gonçalves Mendes conseguiu captar a essência: amor, antes e depois de tudo. A humanidade do amor. Às vezes, sob o disfarce do ateísmo e do olhar materialista (e dialéctico) da vida; outras vezes, rendido ao altar dos cânticos e à fé nas coisas que não se explicam.
Por mistério (ou por falta dele) o Rei D. João III, de Portugal, presenteia o Arqueduque Maximiliano, da Áustria com um elefante. Enquanto a "Viagem do Elefante" se escreve e se corporiza em livro, o documentário desfia a história de Saramago em seus últimos anos de vida e a força de Pilar, que amando o homem, nos permite o José que havia em Saramago. O Nobel...
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