segunda-feira, 24 de janeiro de 2005

Pedras

Filinto Elísio


Espumas que eras


A borbulhar nas espumas, tu
e eu, esquecidos dos enganos,
de serem as horas plácidas
e os lugares incaracterísticos;

Dos frutos olvidaremos os umbrais
com que das falésias uivam, de silvarem,
as brisas e os lobos e, de cantarem,
os lobisomens evadidos das tocas;

Seremos, noite e dia, este mistério
de haver olhar, como o luar, que se esvai
num mergulhado banho de nuvem;

Esta coisa não dita, apenas e um pedaço,
pressentidos corpos, fugaz encontro,
quando - o que existe - é tudo viagem…



Das pedras noutra margem


Soube das pedras – das mais preciosas, diria -,
e era-o topázio no teu peito e no elevador,
de onde se via Nova Iorque envidraçado,
pensei a vida toda dos teus seios;

Quis, a cada paragem, cantar as pedras
e, num manifesto, fazer das pedras meus versos,
a cor furtada ao brilho dos meus olhos
e o néon tremeluzente, tuas mãos;

Soube-as em dedos cuidados doutras musas,
em brincos e piercings fabulosos, no trote das deusas,
pelas montras e avenidas fabulosas, soube-as lindas;

Horas que se escapam das clepsidras e são areias,
inertes que se evaporam no néon da cidade
- topázio! – e continuam pedra, das pedras, em mim…

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