(interpretado por Mayra Andrade)
Palavra:
Cruzado é jogo
Trocado é intriga
Dado é cumprido
Faltado é falsia
D´amor é poesia
De Rei é Lei
De Senhor, Ámen
Mal scrito é erro
Bem scrito é arte
Firmado é promessa
Di bô é simplesmente um língua na nha boca
Palavra:
De vivo é vento
De morto é herança
De honra é aval
Às vezes é lamento
De ordi é pa grita
Gritado é força
Às vez é fraqueza
Rimado é beleza
Rumado é blá-blá
Xintido é oraçon
Di bô é simplesmente um língua na nha boca
Palavra:
A favor é argumento
Cantado é finaçon
Titubeado é gaguez
Truncado é mudez
Calado, hmm! Desconfia
De Romeu é Julieta
De Quixote é loucura
De Buda é sapiência
De Fidel, persistência
Di meu podi ser banal
Ma di bô é simplesmente um língua na nha boca
Mário Lúcio Sousa
domingo, 27 de junho de 2010
sexta-feira, 25 de junho de 2010
quarta-feira, 23 de junho de 2010
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Memorial do Convento
«Entram com el-rei dois camaristas que o aliviam das roupas supérfluas, e o mesmo faz a marquesa à rainha, de mulher para mulher, com ajuda doutra dama, condessa, mais uma camareira-mor não menos graduada que veio da Áustria, está o quarto uma assembleia, as majestades fazem mútuas vénias, nunca mais acaba o cerimonial, enfim lá se retiram os camaristas por uma porta, as damas por outra, e nas antecâmaras ficarão esperando que termine a função, para que el-rei regresse acompanhado ao seu quarto (...) e venham as damas a este aconchegar D. Maria Ana (...).
Vestem a rainha e o rei camisas compridas, que pelo chão arrastam (...). D. João V conduz D. Maria Ana ao leito, leva-a pela mão como no baile o cavaleiro à dama, e antes de subirem os degrauzinhos, cada um de seu lado, ajoelham-se e dizem as orações acautelantes necessárias, para que não morram no momento do acto carnal, sem confissão, para que desta nova tentativa venha a resultar fruto (...)»
José Saramago
in Memorial do Convento
quarta-feira, 16 de junho de 2010
terça-feira, 15 de junho de 2010
O último poema
“O último poema deve ser muito parecido ao susto do primeiro”
Airton Monte
Me_xendo no baú
Mal termino o último poema do “Me_xendo no baú. Vasculhando o U”, ponho-me à trepidação de to enviar, esperando que nele te revejas em cada palavra dita e em cada sentença ainda por dizer. A sintaxe do desejo, afoita à saga da solidão, permite-se também ao tantra contigo e eu (dizê-lo de a Caixa da Pandora estar aberta) não tem o limite da compostura. Os tais labirintos de água, terra, fogo, ar, de que fala José Luís Peixoto. É o sentimento que vira e mexe, sem pieguice, todavia. É apenas uma pluma suspensa no ar e isso não se explica. Nem mesmo ao leitor…
O seu ao seu dono
Está-se a mesa a falar da religiosidade. Somos todos de fé - muita, demorada e sincrética fé. Dispensando liturgias. Alguém propõe falar o Criador e a criatura. A sua cria. O meu amigo Crisolino, “glamouroso” de papel passado, dizia que Deus operou meio milagre ao criar o homem. Já no caso da mulher, o seu ao seu dono, Ele operou milagre e meio. Fê-lo, mais por cálculo da costela do que ilusão de obra-prima. Fê-lo e deixou a obra fazer seu percurso sozinho. Existencialmente…
Morreu-me Lisboa Ramos
À beira de lançar um romance em Lisboa (estava mesmo a falar com os jornalistas sobre ser ou não ser romance), morre-me Aguinaldo Lisboa Ramos, cabo-verdiano de primeira água e cavalheiro de finíssima estampa. Quando me morre alguém – gente de trato amigo, ainda que esparso e caldeado na diferença etária, como é o caso -, as aves da metáfora arribam à minha igreja. Não a dos altares pesarosos, mas aquela interior que se levita para o vão da Beleza. Apesar de agnóstico juramentado e avassalado, tenho os meus momentos de crença e agora, com esta triste notícia de falecimento, os dias ficam-me cada vez mais pobres. Saio para a primaveril varanda lisboeta e identifico, entre vários cravos, um que (por crença genitora de poeta) deve ser o “belo espírito” de Aguinaldo Lisboa Ramos…
domingo, 13 de junho de 2010
la_dainha
novena
açucena de três vozes
ó la_dainha que o mundo é longe;
música
o que é do U
vasculhado na língua das águas
no ín_fimo de cada gota
e no c_ardume dos peixes de tanto mar
que ao di_luviano e va_zante líquido
de placenta silen_ciosa tudo se resume?
- vozes de vasculhando o U!
Filinto Elísio
in Me_xendo no baú. Vascilhando o U
açucena de três vozes
ó la_dainha que o mundo é longe;
música
o que é do U
vasculhado na língua das águas
no ín_fimo de cada gota
e no c_ardume dos peixes de tanto mar
que ao di_luviano e va_zante líquido
de placenta silen_ciosa tudo se resume?
- vozes de vasculhando o U!
Filinto Elísio
in Me_xendo no baú. Vascilhando o U
quinta-feira, 10 de junho de 2010
São Vi_cente
versejo-te com o v_ento e a t_erra
na sombra vã de que já foi luz;
versejo-te sendo este desejo
uma estranha forma de cruz;
(pedaço de céu & braço de mar
coxas da ilha polegares de nada)
versejo-te como um vagabundo
que ronda a cidade e mata a fome;
em qualquer esquina e canta
(na boca da noite) esse hino
que faz relinchar mulheres
donas de um cio de chicotes
vibra_dores & de_cotes:
ó sedosa lua efémera
ó la_pso de tempo
ó la_pso de tento
tentações…
Filinto Elísio
in Me_xendo no baú. Vasculhando o U
na sombra vã de que já foi luz;
versejo-te sendo este desejo
uma estranha forma de cruz;
(pedaço de céu & braço de mar
coxas da ilha polegares de nada)
versejo-te como um vagabundo
que ronda a cidade e mata a fome;
em qualquer esquina e canta
(na boca da noite) esse hino
que faz relinchar mulheres
donas de um cio de chicotes
vibra_dores & de_cotes:
ó sedosa lua efémera
ó la_pso de tempo
ó la_pso de tento
tentações…
Filinto Elísio
in Me_xendo no baú. Vasculhando o U
Sa_l
cruci_fixo
colar caído em teu deco_te
fosse teu cangote esta encruzilhada
o meu primeiro projecto de sombra
o de perscrutar luz em ti
escondida antes da aurora
no areal da Hera
alcova de algum peca_do
montava eu o puzzle de outrora
- incauto da morte achei-a
desta eternidade -
e teus demónios foram apanhados de súbito
lar_gados como bode ao sabor do monte
queríamos nós cabriolar fêmeas em tempo de es_tio
morreu-me tão estival momento
punha-me nele de cabra_lina pedra
meus geni_tais em clementina
o que explicava à idade de cardeal
um espelho fatal derramado à face
e as rugas me aboca_nharem olhos
ba_nharem também minha sede de pajem
& garga_lharem que a vida são dois dias
sois deuses escondidos que eu sei
sois tantos orixás em fila
os búzios jogado_s sobre os panos
dizem-me lobo-guará perdido na cidade
cansada fera
suplicando à lua esmaecida
lá onde o mar des_gasta a ilha
mas a pedra car_comida sobra
des_nuda-se ela que nem puta
pulsando a tarde com poesia
sois mais que anjo atrás da porta
sois aquele que salva no armário
sinto-te
& não temas o traído en_raivecido
te imponha
& revire o jogo de cartas marcadas
não me olhes tão assim
meu cúmplice
que o espelho é isso: vermo-nos nele
esse vaivém de mar
mar que me banha b_enta e s_agrada
pressinto-o a cada gota
[oceano tanto – infinita água tua
canto à-toa teu mar_ulhar
sois quanta escondida em banho
cristais de espuma nos meus cantos
meu navio sulca tuas nuvens]
alado navio este meu
e sa_l tem disso:
miragens enfim!
Filinto Elísio
in Me_xendo no baú. Vasculhando o U
colar caído em teu deco_te
fosse teu cangote esta encruzilhada
o meu primeiro projecto de sombra
o de perscrutar luz em ti
escondida antes da aurora
no areal da Hera
alcova de algum peca_do
montava eu o puzzle de outrora
- incauto da morte achei-a
desta eternidade -
e teus demónios foram apanhados de súbito
lar_gados como bode ao sabor do monte
queríamos nós cabriolar fêmeas em tempo de es_tio
morreu-me tão estival momento
punha-me nele de cabra_lina pedra
meus geni_tais em clementina
o que explicava à idade de cardeal
um espelho fatal derramado à face
e as rugas me aboca_nharem olhos
ba_nharem também minha sede de pajem
& garga_lharem que a vida são dois dias
sois deuses escondidos que eu sei
sois tantos orixás em fila
os búzios jogado_s sobre os panos
dizem-me lobo-guará perdido na cidade
cansada fera
suplicando à lua esmaecida
lá onde o mar des_gasta a ilha
mas a pedra car_comida sobra
des_nuda-se ela que nem puta
pulsando a tarde com poesia
sois mais que anjo atrás da porta
sois aquele que salva no armário
sinto-te
& não temas o traído en_raivecido
te imponha
& revire o jogo de cartas marcadas
não me olhes tão assim
meu cúmplice
que o espelho é isso: vermo-nos nele
esse vaivém de mar
mar que me banha b_enta e s_agrada
pressinto-o a cada gota
[oceano tanto – infinita água tua
canto à-toa teu mar_ulhar
sois quanta escondida em banho
cristais de espuma nos meus cantos
meu navio sulca tuas nuvens]
alado navio este meu
e sa_l tem disso:
miragens enfim!
Filinto Elísio
in Me_xendo no baú. Vasculhando o U
quarta-feira, 9 de junho de 2010
San_tiago
por primeiro
(antes do verbo)
último te quer_ia
tiago profa_no
ao sabor da carne;
louvo-te homem
como um to_milho
pão que sai do for_no
e tosta_do
no aguar da fome;
de tanta boca
sugar teu corpo
teus me_andros
tuas grutas
sorver teus poços
demo_rar no osso
e no caroço;
morrer sempre
aos teus montes
serras e cutelos
morrer às achadas tuas
e fajãs querendo ao verde
(ó minha festa!)
morrer ao teu regaço;
(lamber-te à fome
com ânsia mais que à fome)
com ciência que suga
essência do S
de sant_o
e de pecad_o;
diz-me das especiarias
com que te como
ó portentoso
diz-me dos tem_peros
com que te de_voro
meu apolo
(antes do verbo)
sussurra-me tudo;
o que me cani_baliza
e me incendeia à vida:
ser filho teu
e da poesia…
Filinto Elísio
in Me_xendo no baú. Vasculhando o U
(antes do verbo)
último te quer_ia
tiago profa_no
ao sabor da carne;
louvo-te homem
como um to_milho
pão que sai do for_no
e tosta_do
no aguar da fome;
de tanta boca
sugar teu corpo
teus me_andros
tuas grutas
sorver teus poços
demo_rar no osso
e no caroço;
morrer sempre
aos teus montes
serras e cutelos
morrer às achadas tuas
e fajãs querendo ao verde
(ó minha festa!)
morrer ao teu regaço;
(lamber-te à fome
com ânsia mais que à fome)
com ciência que suga
essência do S
de sant_o
e de pecad_o;
diz-me das especiarias
com que te como
ó portentoso
diz-me dos tem_peros
com que te de_voro
meu apolo
(antes do verbo)
sussurra-me tudo;
o que me cani_baliza
e me incendeia à vida:
ser filho teu
e da poesia…
Filinto Elísio
in Me_xendo no baú. Vasculhando o U
terça-feira, 8 de junho de 2010
En_luada
despes-me
en_luada
(postos astros em zodíaco)
entalas-me
encruada
(canibalizado de tua carne)
…e não dirás contra-pecados
que não sejam novenas
estas;
despes-me
como quem navega
(que não tem outro sossego)
assaltas-me
assim à desarmada
(tanto me despenham sucos
quanto me salpicam rugas)
…guardarás luas e suas luzes
que as sombras estas lhe são
árvores;
frondosas folhas
tê-las em nós
- da copa à raiz, amplexo
que é da terra ao céu
meu nó do S
meu nu do U
nódulo
e
verde frutal
V de nó vital
- menu
de te deli_ciar.
Filinto Elísio
in Me_xendo no baú. Vasculhando o U
en_luada
(postos astros em zodíaco)
entalas-me
encruada
(canibalizado de tua carne)
…e não dirás contra-pecados
que não sejam novenas
estas;
despes-me
como quem navega
(que não tem outro sossego)
assaltas-me
assim à desarmada
(tanto me despenham sucos
quanto me salpicam rugas)
…guardarás luas e suas luzes
que as sombras estas lhe são
árvores;
frondosas folhas
tê-las em nós
- da copa à raiz, amplexo
que é da terra ao céu
meu nó do S
meu nu do U
nódulo
e
verde frutal
V de nó vital
- menu
de te deli_ciar.
Filinto Elísio
in Me_xendo no baú. Vasculhando o U
sábado, 5 de junho de 2010
Traduzir-se
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Ferreira Gullar
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Ferreira Gullar
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Tabu_leiro
o poeta busca a letra
a musa
a kilo k vc gosta;
ele:
vas_culha
de leve
a letra u
ela:
bor_bulha
de breve
½ d_ode marítima
1 verso drummoniano
2 pessoas de fingir
da dor deveras
ele
vira múltiplos de alma
ela
dita saudade dada
(acrecentam-se-lhes:
cifras
ânforas com palavras
algumas metáforas
& outros paladares)
o mais
(receituário deste tabu_leiro)
pão de beijo
...ooooops, calami! Lapsus linguae
(tropiezo involuntário...mineira é fogo)
seria:
pão de queijo!
Filinto Elísio
in Me_xendo no baú. Vasculhando o ú.
a musa
a kilo k vc gosta;
ele:
vas_culha
de leve
a letra u
ela:
bor_bulha
de breve
½ d_ode marítima
1 verso drummoniano
2 pessoas de fingir
da dor deveras
ele
vira múltiplos de alma
ela
dita saudade dada
(acrecentam-se-lhes:
cifras
ânforas com palavras
algumas metáforas
& outros paladares)
o mais
(receituário deste tabu_leiro)
pão de beijo
...ooooops, calami! Lapsus linguae
(tropiezo involuntário...mineira é fogo)
seria:
pão de queijo!
Filinto Elísio
in Me_xendo no baú. Vasculhando o ú.
terça-feira, 1 de junho de 2010
Dois e dois: quatro
Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
como é azul o oceano
e a lagoa, serena
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena
- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.
Ferreira Gullar
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
como é azul o oceano
e a lagoa, serena
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena
- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.
Ferreira Gullar
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