sexta-feira, 25 de julho de 2008

Man in the mirror

I'm starting with the man in the mirror
I'm asking him to change his ways
Micheal Jackson. Man in the Mirror
Não tomei tento à fase da lua, mas hoje estou “estranho”. Acho que é do tempo da chuva. Quando amanhece em neblina, fico mais oblíquo. Desvio-me do quotidiano. Só regresso para dar pequeno-almoço aos meus filhos. Estes são a minha realidade. Ultimamente, devido ao enorme espelho do meu quarto, olho-me muito e mais demoradamente. Vejo-me reflectido e invade-me uma sensação nova, que não a da egolatria. Ou é o reflectido que olha para mim? Não interessa. Tal como em certa matemática, a inversão não altera a ordem dos factores. Ou altera? Tanto faz. O reflexo mexe comigo e resplandece a minha solidão existencial. Ó cambada, ó turbilhão de gente, estou só, irremediavelmente só, ouviram? Estar só é poder andar de tapete voador sobre os labregos, sobre o Café Sofia e topar que a barulheira da cidade não passa de um silêncio ulterior. Ou, tal qual aquele invisível, de Os Dados Estão Lançados, de Jean-Paul Sartre, em que o protagonista gritava, gesticulava e suplicava, sem que ninguém lhe desse a mínima. Nem com GPS, se chega a Xangai. Nem à boleia do Autocarro # 20. Olho, pela CNN, a preparação dos Jogos Olímpicos de Pequim. Qualquer dia, peço ao pessoal do Tribunal Internacional que formule um mandato contra a vizinhança que joga o lixo fora dos contentores. Não me refiro à Sérvia. Tão pouco é piada sobre Guantanamo. Em Safende e arredores, a situação interpela aos senhores dos Direitos Humanos. Mas falava do meu espelho. Olho-me e estou biodegradável. Este gajo não é um filet-mignon, caramba. Mário Fonseca, poeta desta minha cidade, escrevera nuns versos que “viver/ devia ser/ até 20”. É o mais existencial dos poemas de Mário Fonseca. Ontem, sonhei com a tal bomba termonuclear, que já não poderá a acabar com a Esplanada da Praça Alexandre Albuquerque. Esta foi destruída pela incompetência municipal, frustrando qualquer intenção poético-terrorista. Faz neblina e Nero teve as suas razões para incendiar Roma. Estou “estranho”. Apagão da Electra, falta de água, mosquitos por todo o lado, cheiro à merda depois da chuva de ontem, o ignorante sindicalista na TCV, os parasitas e os oportunistas, os taxistas e os hiacistas, e esse energúmeno a jurar que é Verão…isso tudo só poderá ser uma brincadeira de mau gosto. Got you, baby. Mas, como todos, dou gargalhadas. Palmas que esta peça há-de entrar na próxima estação teatral do Mindelact. Estamos ainda a tempo de apresentar O Espelho, ó João? Parece que é neblina no universo inteiro. Como todos, sei que metade não amou hoje. Como todos, só 10% faz realmente amor e um ½ desse contingente acredita nos nossos deuses de esquina. Como todos, caminho para o crepúsculo. Com hora marcada para apagar…

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